
- Brasil registra menor taxa de analfabetismo da série, mas ainda tem 9,1 milhões de pessoas analfabetas.
- Desigualdades regionais, etárias e raciais revelam que o país ainda não resolveu o problema.
- Ensino superior avança, mas impactos da pandemia e evasão escolar por trabalho e gravidez persistem.
O Brasil registrou em 2024 a menor taxa de analfabetismo entre pessoas com 15 anos ou mais desde 2016. Mesmo com a queda para 5,3%, o número absoluto ainda impressiona: 9,1 milhões de brasileiros não sabem ler nem escrever um bilhete simples. Os dados, divulgados pelo IBGE, revelam também desigualdades regionais, etárias e raciais que ainda persistem e exigem atenção urgente.
Redução é histórica, mas está longe da erradicação
A nova taxa representa um avanço em relação aos 5,4% registrados em 2023, consolidando a trajetória de queda iniciada há quase uma década. Em 2016, o índice era de 6,7%. Apesar disso, o Plano Nacional de Educação (PNE) previa erradicar o analfabetismo até 2024, meta que claramente não será alcançada.
Pelas regras da pesquisa, é considerado analfabeto quem não consegue ler ou escrever um bilhete simples. O IBGE alerta que, mesmo com os avanços, os 9,1 milhões de analfabetos equivalem a mais que toda a população do Pará, nono estado mais populoso do país.
A queda do analfabetismo é atribuída, em parte, à melhoria da escolarização entre os jovens. No entanto, o legado histórico ainda pesa fortemente entre os mais velhos, que enfrentaram barreiras maiores no passado.
Idosos concentram mais da metade dos casos
Entre os analfabetos brasileiros, 56,4% têm 60 anos ou mais. Isso significa que 5,1 milhões de idosos ainda não sabem ler nem escrever. A taxa de analfabetismo nessa faixa etária caiu de 20,5% em 2016 para 14,9% em 2024, mas continua alta.
Segundo o analista do IBGE, William Kratochwill, “o analfabetismo entre os mais velhos mostra como gargalos históricos ainda afetam a população atual”. Ou seja, o país carrega um passivo educacional que se reflete diretamente na qualidade de vida dessas pessoas.
Além da idade, o analfabetismo é influenciado por raça e território. Pretos ou pardos, por exemplo, apresentaram taxa de 6,9%, mais que o dobro dos brancos (3,1%). Já em termos regionais, o Nordeste continua sendo o epicentro do problema.
Desigualdade regional ainda preocupa
A taxa de analfabetismo no Nordeste foi de 11,1%, a mais alta do país — e a única ainda acima de 10%. Alagoas lidera negativamente, com 14,3%, seguida por Piauí (13,8%) e Paraíba (12,8%).
Na contramão, o Distrito Federal atingiu a menor taxa do país, com apenas 1,8%, seguido por Santa Catarina (1,9%) e Rio de Janeiro (2%). Essas disparidades escancaram os desafios para políticas públicas eficazes em escala nacional.
Além da alfabetização, outros indicadores também mostram avanços na educação, como o aumento dos anos médios de estudo e da proporção de adultos com ensino superior.
Ensino superior cresce, mas pandemia ainda deixa marcas
A média de anos de estudo da população de 15 anos ou mais subiu para 10,2 em 2024, a mais alta já registrada. A proporção de brasileiros com ensino superior completo também ultrapassou os 20% pela primeira vez.
Entretanto, a frequência escolar ideal entre crianças de 6 a 14 anos está abaixo do previsto pelo PNE. Em 2024, a taxa foi de 94,5%, contra 96,7% em 2016. A pandemia afetou principalmente os mais novos, dificultando o processo de alfabetização na idade certa.
Entre os jovens de 15 a 17 anos, a frequência escolar líquida subiu para 76,7%, também abaixo da meta de 85%. Ainda assim, o percentual é o melhor da série histórica.
Desistência escolar tem causa social e econômica
A necessidade de trabalhar segue como o principal motivo de evasão entre jovens de 14 a 29 anos que não concluíram o ensino médio, respondendo por 42% dos casos. Entre os homens, esse número sobe para 53,6%, contra 25,1% entre as mulheres.
Já entre as mulheres, o abandono por gravidez representa 23,4% dos casos, enquanto 9% apontaram os afazeres domésticos como razão — taxa significativamente maior do que os 0,8% entre os homens.
Esse cenário reforça que o acesso à educação ainda está condicionado a desigualdades de gênero, renda e responsabilidade familiar.