- Crise fiscal: Maílson prevê colapso fiscal até 2027 com o avanço dos gastos obrigatórios
- Tributação: Critica a isenção do IR e defende imposto mínimo para os mais ricos
- Tarifaço dos EUA: Vê tarifas de Trump como temporárias e sem ganho real para o Brasil
O economista Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda do governo Sarney e sócio da Tendências Consultoria, fez um alerta contundente sobre o futuro da economia brasileira.
Em entrevista recente, ele afirmou que o país está prestes a enfrentar uma grave crise fiscal, que pode se instalar entre este ano e 2027.
Segundo o ex-ministro, a crise é inevitável e apenas resta saber se ela cairá no colo do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou de seu sucessor. Com base em projeções orçamentárias e na deterioração do espaço fiscal, Maílson acredita que o Brasil caminha para um colapso iminente.
Gastos obrigatórios e arcabouço fiscal
O principal fundamento para a previsão de Maílson é o avanço dos gastos obrigatórios, que devem consumir integralmente o espaço do arcabouço fiscal até 2027, tornando inviável qualquer política de controle de despesas.
De acordo com o economista, o arcabouço, aprovado em 2023 sob a liderança do ministro Fernando Haddad, já nasceu fragilizado.
“Você só consegue conter os gastos se parte deles crescer menos que a média. Mas saúde, educação e previdência aumentam acima da inflação, comprimindo os demais”, explicou.
Com os gastos discricionários cada vez mais comprimidos, instituições essenciais como a Embrapa e o IBGE já sofrem com falta de recursos, comprometendo serviços estratégicos para o desenvolvimento do país. Para Maílson, essa trajetória insustentável levará inevitavelmente a um ponto de ruptura.
“Ninguém sabe o momento exato em que a crise começa. É uma fagulha. E um dia, todo mundo percebe que ela chegou”, disse.
Segundo ele, se o colapso vier antes de 2026, pode inviabilizar uma eventual reeleição de Lula.
Críticas à política tributária e propostas
Maílson também criticou duramente a proposta do governo federal de isentar o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Para ele, a medida é populista, inoportuna e insustentável, dado o atual cenário fiscal do país.
“Esse valor é superior à média de rendimento da população brasileira. Não é o momento de abrir mão de receita”, afirmou.
Em contrapartida, o economista defendeu a criação de um Imposto de Renda Mínimo para os mais ricos, nos moldes do que está sendo debatido na OCDE.
“É uma bela ideia. O mínimo eles têm de pagar, e eu acho que 10% é pouco. Poderia ser 15%”, sugeriu.
Ao apontar a necessidade de uma reforma tributária mais justa, Maílson reforçou que o foco deve estar na progressividade e na capacidade contributiva. Ele argumenta que não há espaço para benesses tributárias em um país que enfrenta desequilíbrio fiscal crônico e onde o Estado mal consegue manter serviços básicos funcionando.
Ceticismo sobre impactos do tarifaço de Trump
Além da análise interna, Maílson comentou os desdobramentos da nova política comercial dos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump. Desde janeiro, os EUA impuseram tarifas de até 145% sobre produtos chineses, o que desencadeou uma resposta igualmente agressiva da China, com tarifas de 125%.
Embora alguns analistas enxerguem nessa guerra comercial uma oportunidade para o Brasil ampliar exportações aos EUA, Maílson discorda.
“Isso só faria sentido se as tarifas fossem permanentes. Mas reestruturar a produção e logística para isso leva de dois a três anos. É uma ilusão”, avaliou.
Para ele, a estratégia de Trump, no entanto, é ultrapassada e prejudicial.
“Ele é um analfabeto em teoria econômica e história. Age como se ainda estivéssemos no século XIX, quando valia a lei do mais forte no comércio internacional”, criticou.
O economista acredita que o plano protecionista dos EUA não vai prosperar por muito tempo. Pois, à medida que os investidores americanos perceberem perdas em seus portfólios de ações, haverá pressão interna contra essa política.
“É uma guerra sem vencedores. E se todos perdem, o Brasil também perde”, concluiu.
Com um tom direto e crítico, Maílson da Nóbrega joga luz sobre riscos fiscais iminentes e decisões econômicas controversas. Além do cenário internacional incerto, reforçando a necessidade urgente de reformas estruturais e responsabilidade na gestão pública.