Clima de tensão

Base governista blinda irmão de Lula de depor na CPI do INSS

A base governista barrou a ida de Frei Chico à CPI que investiga fraudes em descontos de aposentados; oposição fala em blindagem política.

Foto: Monalisa Lins/AE1
Foto: Monalisa Lins/AE1
  • Base aliada de Lula barrou a convocação de Frei Chico, irmão do presidente, por 19 votos a 11 na CPI do INSS.
  • As autoridades investigam o Sindinapi por fraudes e descontos ilegais em aposentadorias e suspeitam de repasses milionários a empresas ligadas a seus dirigentes.
  • Oposição fala em blindagem política, e o caso amplia o clima de tensão entre Planalto e Congresso.

A base do governo impediu a convocação de José Ferreira da Silva, o Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para depor na CPI do INSS. Ele é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindinapi), entidade investigada por descontos irregulares em benefícios previdenciários.

Os governistas tomaram a decisão após forte disputa com a oposição, que tenta vincular o nome de Frei Chico às investigações da Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. A base aliada conseguiu barrar a convocação por 19 votos a 11, ampliando a crise política dentro da comissão.

Embate político e blindagem governista

Deputados aliados ao Planalto e membros da oposição travaram confrontos diretos durante a sessão. O relator da CPI, Alfredo Gaspar (União-AL), defendeu a convocação de Frei Chico, argumentando que ele deveria explicar o aumento expressivo do faturamento do Sindinapi nos últimos anos.

De acordo com dados apresentados por Gaspar, o sindicato elevou sua receita em mais de 560% entre 2020 e 2024, alcançando R$ 154,7 milhões. As investigações também apontam que uma empresa ligada a familiares de dirigentes, a Gestora Eficiente, teria recebido R$ 4,1 milhões em comissões por processar filiações de aposentados.

Mesmo assim, a base governista alegou que não há elementos novos que justifiquem o depoimento do irmão de Lula. O grupo manteve o acordo interno de não convocar membros de segundo escalão das entidades investigadas sem fatos concretos que justifiquem a oitiva.

Rejeição de prisão e defesa de Milton Cavalo

Durante a mesma sessão, a CPI também rejeitou o pedido de prisão preventiva de Milton Baptista de Souza, conhecido como Milton Cavalo, presidente do Sindinapi. O relator acusava o dirigente de comandar um esquema de desvio de milhões de reais de aposentados entre 2015 e 2025.

Além disso, Gaspar afirmou que a CGU e a Polícia Federal já comprovaram movimentações suspeitas e citou indícios de fraude massiva nos convênios firmados com o INSS. Ele declarou que pedirá novas medidas contra integrantes do sindicato nas próximas semanas.

A defesa de Milton Cavalo comemorou a decisão e considerou o resultado “uma vitória do devido processo legal”. Em nota, os advogados afirmaram que autoridades não devem usar medidas que restringem a liberdade como instrumento político dentro da CPI.

O papel de Frei Chico e as reações no Congresso

Apesar de ter cargo de vice-presidente do Sindinapi, Frei Chico não aparece como investigado formal no inquérito. Segundo o presidente do sindicato, ele exerce apenas funções políticas e representativas, sem participação administrativa ou financeira nas decisões.

Ademais, durante depoimento anterior, Milton Cavalo declarou que o irmão de Lula “nunca teve função de gestão, apenas de representação sindical”. Mesmo assim, oposicionistas insistem que ele deve explicar o crescimento repentino das receitas da entidade e os repasses às empresas contratadas.

A decisão de barrar sua convocação provocou forte reação da oposição, que acusou o governo de blindagem política e de interferência na investigação. Por fim, nos bastidores, líderes do Centrão avaliam que a disputa na CPI pode enfraquecer o governo na pauta econômica e nas votações do Congresso.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.