- Facções criminosas lucram mais com mercados lícitos do que com cocaína
- Controle de postos e usinas de etanol amplia poder econômico das facções
- Combate ao crime exige ação coordenada de órgãos financeiros e reguladores
O crime organizado no Brasil já lucra mais com a venda irregular de combustíveis, ouro, cigarros e bebidas alcoólicas do que com o tráfico de cocaína, segundo estudo divulgado na quinta-feira (13) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Em 2022, essas atividades ilegais renderam R$ 146,8 bilhões às facções criminosas, como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), enquanto o tráfico de cocaína movimentou R$ 15 bilhões no mesmo período.
A expansão do crime organizado para setores formais da economia não apenas gera perdas fiscais bilionárias, mas também amplia o poder político dos criminosos, especialmente em regiões com baixa presença do poder público.
O diretor-presidente do Fórum, Renato Sérgio de Lima, alertou para o risco de uma “mexicanização” do Brasil. Dessa forma, referindo-se à influência econômica do crime organizado no México.
Facções dominam mercados
Facções criminosas começaram a explorar os mercados lícitos para lavar o dinheiro do tráfico de drogas, mas os lucros elevados tornaram essas atividades mais rentáveis.
No comércio de cigarros e bebidas alcoólicas, os produtos circulam principalmente em comunidades e periferias. Já no mercado de combustíveis, o crime organizado controla postos de gasolina e até usinas de etanol. Dessa forma, dominando toda a cadeia produtiva, inclusive em bairros nobres.
A Polícia Federal investiga a denúncia de que mais de mil postos de combustíveis em todo o país estão sob o controle do crime organizado. Além do contrabando, as facções adulteram combustíveis. Assim, prejudicando a concorrência legal e afetando consumidores.
Tráfico de drogas
Apesar da ascensão dos mercados lícitos, o tráfico de drogas continua essencial para o crime organizado, pois garante o poder bélico e o controle territorial, especialmente nas rotas ilegais da Amazônia e do Mato Grosso do Sul.
A cocaína, embora menos lucrativa em comparação aos mercados lícitos, ainda oferece altos ganhos. Um quilo de cocaína pura custa cerca de US$ 1 mil na fronteira do Brasil, mas pode chegar a US$ 52 mil na Europa. Dessa forma, evidenciando o potencial lucrativo desse mercado.
Perdas fiscais
A atuação do crime organizado nos mercados lícitos provoca perdas significativas na arrecadação de impostos, agravando o déficit fiscal do país.
Segundo Renato Sérgio de Lima, o montante não arrecadado supera o déficit público, evidenciando o impacto econômico dessas atividades ilegais.
Além das perdas fiscais, a presença do crime organizado prejudica a competitividade das empresas legais, que enfrentam concorrência desleal devido à sonegação de impostos e à adulteração de produtos. Esse cenário compromete o ambiente de negócios e afeta o desenvolvimento econômico do país.
Ação coordenada
O estudo destaca a necessidade de uma abordagem coordenada para enfrentar o crime organizado, envolvendo não apenas as forças de segurança, mas também órgãos como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), o Banco Central, a Receita Federal, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
Sérgio de Lima ressalta que esses órgãos têm um papel crucial no combate ao crime econômico, mas muitas vezes estão focados em outras áreas, como política monetária e regulação de setores específicos.
Para o especialista, o debate sobre o enfrentamento ao crime organizado é fundamental para o futuro do Brasil e deve envolver uma atuação conjunta e integrada de todas as instituições responsáveis pelo controle financeiro e pela fiscalização econômica.