
- Queda de 17% em uma semana reflete preocupação do mercado com margens e estrutura da empresa.
- Mais de mil consumidores afetados por fechamento em série; promessas não cumpridas geram revolta.
- Guerra de preços e sobreoferta fazem governo chinês intervir no setor e pedir fim da competição predatória.
A gigante chinesa BYD, considerada símbolo da revolução dos veículos elétricos, vive sua pior semana do ano. As ações da empresa caíram 17%, e os sinais de instabilidade no mercado chinês levantam dúvidas sobre a sustentabilidade de seu modelo de negócios.
Estratégia agressiva causa efeito reverso
Nos últimos meses, a BYD lançou uma verdadeira ofensiva comercial. Mais de 20 modelos da montadora — entre elétricos e híbridos — passaram por cortes de até 34%. O Seagull, um dos carros mais populares da empresa, chegou a ser vendido por 55.800 yuans (cerca de US$ 7.780), numa tentativa de aumentar volume e liquidar estoques.
No entanto, a manobra provocou um efeito colateral. A forte redução de preços abalou as margens de lucro da BYD, ao mesmo tempo em que pressionou as concorrentes locais a entrarem em uma guerra de preços. A medida não apenas reduziu a rentabilidade do setor, como também trouxe desconfiança de investidores quanto à viabilidade dessa política no longo prazo.
Além disso, o ritmo de crescimento das vendas de veículos elétricos na China começou a desacelerar, o que reduziu o impacto esperado das promoções e piorou ainda mais o quadro.
Falência de revendas gera caos entre consumidores
Em paralelo à crise nos lucros, a BYD enfrenta agora um novo desafio: o colapso de suas redes de concessionárias. A Qiancheng Holdings, maior representante da marca na província de Shandong, fechou as portas de 20 lojas de uma só vez. Cerca de 1.000 consumidores, que haviam adquirido veículos com promessas de manutenção vitalícia, ficaram sem suporte.
As reclamações se multiplicaram nas redes sociais e nas delegacias locais. Clientes alegam terem sido enganados com pacotes de garantia e seguros que hoje não têm mais validade. A montadora, por sua vez, não esclareceu se irá assumir os compromissos deixados pela revenda falida, o que gerou ainda mais incertezas.
Esse episódio, segundo analistas do setor, evidencia uma fragilidade estrutural: a rápida expansão da marca nos últimos anos não foi acompanhada por um plano robusto de pós-venda e fiscalização das concessionárias.
Pressão sobre fornecedores e intervenção estatal
Para manter sua estratégia de preços baixos, a BYD iniciou uma ofensiva sobre seus próprios fornecedores. A empresa exigiu que os preços dos componentes caíssem 10% a partir de janeiro de 2025. A medida, embora coerente com sua política de redução de custos, pode provocar colapsos em empresas menores da cadeia produtiva.
O governo chinês, inclusive, demonstrou preocupação. Autoridades alertaram para os efeitos nocivos da guerra de preços sobre a saúde do setor automotivo. Há um temor crescente de que essa competição desenfreada leve não apenas a falências em série, mas também a uma crise de sobreoferta que comprometa a inovação e a geração de empregos.
Internamente, especialistas afirmam que a China vive um desequilíbrio no setor de carros elétricos: produção excessiva, demanda mais fraca e concorrência feroz. A situação ameaça minar a confiança de investidores e enfraquecer o desempenho das líderes do segmento — como a própria BYD.
Futuro incerto e necessidade de reavaliação
Embora a falência da BYD não seja considerada iminente, há um consenso de que a empresa precisa repensar sua estratégia. A pressão por crescimento acelerado, combinada à fragilidade de sua rede e à insatisfação de clientes, representa um risco real à reputação da marca.
Além disso, a confiança do mercado está abalada. O tombo das ações reflete não apenas o momento atual, mas também um alerta de que o modelo baseado exclusivamente em volume e descontos pode ter chegado ao seu limite.
Sem ajustes, a BYD corre o risco de ver sua posição de liderança no mercado global de elétricos escorregar pelas mãos — justamente no momento em que alcançava novos mercados como Europa e América Latina.