
- Fogo amigo no PT gera boato de substituição de Haddad por Mercadante e abala confiança do mercado
- Ministério da Fazenda encontra solução para compensar perda de R$ 2 bilhões com IOF sem precisar do aumento
- Racha interno evidencia disputa entre alas técnicas e ideológicas do governo Lula sobre os rumos da economia
Em meio à turbulência provocada pelo aumento do IOF, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfrentou uma nova onda de pressão nesta quarta-feira (28). Boatos sobre sua possível substituição pelo presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, ganharam força nos bastidores de Brasília e repercutiram negativamente no mercado financeiro.
A origem da especulação, segundo aliados do próprio governo, está dentro do PT. Contudo, onde correntes internas divergem sobre a condução da política econômica do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
No Palácio do Planalto, auxiliares mais próximos do presidente tratam o rumor como infundado, ao menos por ora. Mas o estrago foi feito. Investidores reagiram com cautela, refletindo o receio de uma guinada mais radical na economia.
Enquanto isso, técnicos do Ministério da Fazenda buscaram demonstrar que o plano de ajuste fiscal segue de pé. No início da noite, o ministério anunciou que já encontrou uma solução para cobrir os R$ 2 bilhões de arrecadação que seriam obtidos com o aumento do IOF, cuja viabilidade política está em xeque.
Racha interno
Apesar da sinalização de estabilidade por parte da Fazenda, os sinais de racha interno não passaram despercebidos. Interlocutores próximos a Haddad acusam, sem citar nomes, o chamado “fogo amigo” de petistas insatisfeitos com sua postura técnica e pouco alinhada à ala mais ideológica do partido.
Para esses aliados, Mercadante tem feito movimentos calculados, com discursos públicos que, embora elogiem Haddad, sempre incluem sugestões alternativas à política atual , como a proposta de taxar as apostas esportivas, as bets, em vez de aumentar o IOF.
A leitura de alguns operadores do mercado é de que a instabilidade interna pode colocar em risco a credibilidade do governo na agenda econômica.
“Se acham ruim com o Haddad, será muito pior sem ele”, afirmou um executivo de um grande banco de investimentos.
A avaliação ecoa entre líderes empresariais e integrantes do governo que consideram o ministro um pilar de racionalidade diante da pressão por gastos.
Ainda assim, o episódio revela como Haddad se tornou uma figura incômoda para setores dentro do próprio governo. Ele mexeu com interesses poderosos ao defender o equilíbrio fiscal. Além de revisar incentivos e avançar na regulamentação de fundos no exterior. Essas medidas desagradam tanto o mercado quanto parte da base governista, que vê nelas um afastamento do espírito desenvolvimentista do governo Lula.
Na tentativa de acalmar os ânimos, o secretário-executivo da Fazenda, Dario Durigan, afirmou após reunião com o presidente da Febraban, Isaac Sidney, que o ministério está disposto a discutir “medidas alternativas com a sociedade”. Assim, sinalizando abertura ao diálogo. Porém, dentro da Esplanada dos Ministérios, o clima ainda é de tensão.
A equipe de Haddad trabalha para conter articulações no Congresso que visam derrubar as alterações no IOF e outras propostas fiscais em andamento.
A permanência de Haddad, por ora, parece assegurada. Mas o episódio escancarou a fragilidade política do ministro em um governo cada vez mais pressionado por disputas internas. Enquanto isso, o mercado observa e reage a cada sinal de instabilidade.