Guerra comercial

Com aumento de impostos, importação de veículos elétricos e híbridos cai 51% no Brasil

Tributação escalonada e guerra comercial com a China explicam forte retração nas compras externas e queda afeta modelos elétricos.

anfavea carros eletricos mcamgo abr 14062023 15
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  • Tributação escalonada reduziu em 51% as importações de veículos eletrificados no 1º trimestre
  • China perde força no mercado por causa de tarifas, fim de subsídios e tensões comerciais
  • Importações de elétricos e híbridos caem 46,4%, com destaque para recuo de 70% nos elétricos

As importações brasileiras de carros elétricos e híbridos caíram 51% no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), o país adquiriu US$ 428,7 milhões em automóveis dessas categorias entre janeiro e março, contra US$ 874,6 milhões no mesmo intervalo do ano passado.

A redução é ainda mais acentuada quando se analisa apenas os veículos elétricos, cuja queda chegou a 74,9%, passando de US$ 417,6 milhões para US$ 104,8 milhões. Já os híbridos sofreram retração de 29,1%, com volume importado caindo de US$ 457 milhões para US$ 323,9 milhões.

O recuo acontece após o início da reintrodução do imposto de importação para veículos elétricos e híbridos, que estavam com alíquotas zeradas desde 2015. Desde janeiro de 2024, o governo começou a aplicar uma taxação escalonada, partindo de 10% para carros elétricos e 15% para híbridos.

Essa cobrança aumentará progressivamente até atingir 35% em julho de 2026. A decisão de retomar o imposto recebeu apoio da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

De acordo com o presidente da entidade, Márcio de Lima Leite, a isenção anterior custou ao Brasil cerca de R$ 6 bilhões em arrecadação somente em 2024.

China perde força como principal fornecedora de veículos elétricos

A China, que dominava o mercado brasileiro de carros eletrificados, também começa a sentir os efeitos de um cenário internacional menos favorável. Em 2024, o país asiático respondeu por 84% das exportações de veículos elétricos para o Brasil, com vendas que somaram US$ 1,4 bilhão.

Entre os híbridos, 64% dos modelos vendidos ao Brasil vieram da China. Apesar dessa predominância, a expectativa para 2025 é de desaceleração nas vendas de modelos chineses, tanto no Brasil quanto em outros mercados estratégicos.

Segundo a Bloomberg, as exportações chinesas de veículos elétricos caíram 18% em fevereiro de 2025 em relação ao mesmo mês de 2024. Em países como Coreia do Sul, Bélgica e Espanha, a queda foi ainda mais brusca: 51%, 49% e 41%, respectivamente. Essas retrações se explicam principalmente pelas medidas protecionistas adotadas por diversas nações.

Em novembro passado, a União Europeia impôs tarifas antissubsídios de até 35,3% contra os veículos elétricos fabricados na China, o que levou Pequim a acionar a Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a medida.

Além disso, o fim gradual dos subsídios estatais chineses para fabricantes de automóveis também enfraqueceu a competitividade dos modelos exportados.

A guerra comercial em curso com os Estados Unidos contribui para a incerteza, com os chineses enfrentando crescente resistência em mercados ocidentais. No curto prazo, esses fatores devem limitar a expansão internacional das marcas chinesas, inclusive no Brasil.

Mercado brasileiro sofre retração expressiva

Em volume, a retração do mercado brasileiro de carros sustentáveis foi igualmente significativa. No primeiro trimestre de 2025, o país importou apenas 5.849 veículos elétricos, uma queda de 69,8% em relação aos 19.374 adquiridos no mesmo período de 2024.

Já o número de híbridos caiu de 15.693 para 12.965, uma redução de 17,4%. Considerando as duas categorias, o total de unidades importadas no período foi de 18.814, 46,4% a menos que os 35.067 automóveis registrados no primeiro trimestre do ano anterior.

O ano de 2024 havia sido histórico para a eletrificação automotiva no país, com recorde de importações e forte crescimento impulsionado pela isenção fiscal. A reversão desse cenário em 2025 revela a sensibilidade do mercado brasileiro a mudanças tributárias e ao ambiente internacional.

Apesar da desaceleração, especialistas acreditam que o interesse do consumidor brasileiro por veículos sustentáveis continuará em alta, mas dependerá cada vez mais da produção local e de incentivos à indústria nacional.

A expectativa agora recai sobre os próximos passos da política industrial brasileira. Com o avanço da taxação, cresce a pressão para que o país fortaleça sua cadeia produtiva de veículos eletrificados, desenvolva infraestrutura de recarga e adote políticas públicas que incentivem a produção e o consumo de tecnologias limpas, sem depender excessivamente das importações.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.