
- Farmácias iniciam pré-venda do Mounjaro no Brasil com preços de até R$ 2.384
- Anvisa exige retenção de receita médica para compra do medicamento
- Mounjaro ainda não tem autorização para uso contra obesidade, mas atrai interessados por efeito emagrecedor
A febre das chamadas “canetinhas emagrecedoras” ganhou mais um capítulo explosivo nesta semana, com a abertura da pré-venda do medicamento Mounjaro em grandes redes de farmácias do Brasil.
Desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly e aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para o tratamento do diabetes tipo 2, o remédio começará a ser distribuído na primeira quinzena de maio de 2025, mas já provoca uma corrida de consumidores, interessados em usá-lo como redutor de peso, apesar de essa indicação ainda não ter sido aprovada.
Pré-venda esgotada
As redes Drogasil, Raia, Drogaria São Paulo, Pacheco e Pague Menos já promovem a pré-venda da medicação, cujos preços assustam: partem de R$ 1.400 por mês no programa de fidelidade da fabricante e podem ultrapassar R$ 2.380 fora de descontos ou com incidência de ICMS. Mesmo assim, a demanda explode.
O motivo? A expectativa de que o Mounjaro repita ou até supere o sucesso de vendas de outros medicamentos como Ozempic, Wegovy e Saxenda. Todos já usados de forma “off label” , ou seja, fora das indicações originais para emagrecimento rápido.
Embora a Anvisa ainda não tenha autorizado o uso da tirzepatida (substância ativa do Mounjaro) para controle de peso, o uso como coadjuvante de dieta e atividade física está em avaliação.
Até lá, as farmácias só podem vender o remédio com receita médica específica. A partir de julho, elas terão que reter a receita, não apenas recebê-la no balcão, como antes. A Anvisa oficializou essa mudança em abril durante uma reunião de diretoria, alterando a RDC nº 471/2021.
Canetas autoinjetoras de dose única
A medicação vem em canetas autoinjetoras de dose única, com caixas contendo quatro unidades nas dosagens de 2,5 mg e 5 mg, de aplicação semanal. Segundo a Eli Lilly, a tirzepatida atua em dois hormônios relacionados à saciedade e ao controle glicêmico: o GLP-1 (mesmo alvo da semaglutida, presente em outros injetáveis para emagrecimento) e o GIP (peptídeo inibidor gástrico). A ação dual promete efeitos mais potentes, inclusive na perda de peso — o que explica o entusiasmo popular.
No entanto, médicos alertam que os efeitos colaterais não são desprezíveis. Usuários podem apresentar náuseas, diarreia, desconforto abdominal e hipoglicemia.
O uso sem acompanhamento médico pode levar a complicações sérias, especialmente em pessoas sem diagnóstico de diabetes ou com histórico de distúrbios alimentares.
Segundo o Censo de 2022 do IBGE, o Brasil tem mais de 20 milhões de pessoas com diabetes, o que indica um mercado promissor para o medicamento, mesmo com as limitações atuais.
Com o aumento da pressão estética e a popularização de soluções farmacológicas para emagrecimento, o Mounjaro parece estar no centro de um boom comercial e ético: entre a promessa de perda de peso e o risco de banalização do uso de remédios potentes.
Vigilância redobrada
Especialistas alertam que as pessoas devem redobrar a vigilância, não apenas pelo preço elevado, mas pelos riscos que a automedicação, o uso indevido e a compra em canais não autorizados podem causar. Essa prática já se tornou comum com outros medicamentos da mesma classe.
Com a pré-venda esgotando rapidamente, o Brasil se prepara para uma nova fase no mercado de medicamentos. Contudo, cada vez mais influenciado por tendências estéticas e menos pelas necessidades clínicas.