
O aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciado recentemente pelo governo federal, pode não sair do papel da forma como foi desenhado. Sob intensa pressão do Congresso Nacional, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT-SP), já sinalizou internamente que deve ceder parcialmente: a alta sobre o chamado “risco sacado” — instrumento comum no crédito empresarial — deve ser retirada do decreto.
O recuo ocorre após articulações capitaneadas pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que, junto a outros líderes do Legislativo, ameaçava derrubar o aumento por meio de um PDL (Projeto de Decreto Legislativo).
Uma reunião na noite de segunda-feira (2) selou a tendência: o governo vai buscar um novo caminho para compensar a perda de arrecadação sem entrar em confronto direto com o Congresso.
O que deve cair?
A principal alteração em análise é o cancelamento do aumento do IOF sobre operações com risco sacado, um tipo de garantia nas operações de crédito comumente utilizada por empresas.
O setor privado reagiu negativamente à medida, alegando que o encarecimento do crédito teria efeito imediato sobre a atividade econômica.
Fontes próximas às negociações confirmaram ao site Poder360 que essa parte do decreto deve ser derrubada.
O que deve ficar no IOF?
Já a alta do IOF sobre compras internacionais com cartão de crédito — uma medida que afeta diretamente consumidores pessoa física — deve ser mantida em 2025, segundo o Poder360.
A medida havia sido incluída como forma de equiparar a carga tributária entre compras no exterior e o consumo local, e permanece nos planos do governo ao menos por enquanto.
Como o Haddad pretende compensar a renúncia fiscal?
Para evitar um buraco nas contas públicas, Haddad articula a adoção de medidas estruturais com efeito a partir de 2026, que incluem:
- Revisão de subsídios tributários considerados ineficientes;
- Avaliação sobre o ritmo de crescimento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), o fundo da educação básica que terá alta de 18,3% em 2025, alcançando R$ 58,8 bilhões;
- Discussões mais amplas sobre o engessamento de gastos obrigatórios, como saúde e educação, que têm piso constitucional.
Essas alternativas, no entanto, ainda estão em estágio inicial e podem enfrentar resistência tanto técnica quanto política.
Quem está articulando?
Nos bastidores, uma figura tem sido central: Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central (BC).
Galípolo tem atuado como interlocutor entre governo, Congresso e mercado financeiro, defendendo o recuo parcial do IOF e sugerindo foco em soluções de médio prazo.
Lula será consultado
Apesar do avanço nas conversas, nenhuma decisão será formalizada sem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que embarca para a França na noite desta terça-feira (3).
A expectativa é que a equipe econômica apresente a ele a nova estratégia antes da viagem.