
- Trump promete revogar vistos de estudantes chineses, gerando insegurança e cancelamentos em massa de matrículas nos EUA
- Consultorias educacionais relatam êxodo de estudantes para Europa, Reino Unido e Austrália, em busca de estabilidade
- Universidades como Harvard sentem os impactos, alunos relatam medo de deportações e censura, e veem o sonho americano em risco
Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, os ventos mudaram drasticamente para os estudantes chineses que sonham com uma formação universitária nos Estados Unidos.
A nova ofensiva do presidente, que promete revogar agressivamente vistos de estudantes chineses, especialmente aqueles com supostas ligações com o Partido Comunista, já provoca um verdadeiro êxodo acadêmico. Milhares de jovens, temendo deportações, rejeições ou perseguições, estão abandonando seus planos americanos. E, assim, buscando destinos alternativos como Reino Unido, Finlândia, Noruega e Austrália.
Anqi Dong, uma advogada de 30 anos de Xangai, é um dos muitos casos que simbolizam esse movimento. Aprovada em um programa de doutorado na Universidade do Texas em Dallas, ela, portanto, desistiu da oportunidade por temer a instabilidade política.
“Tudo está muito incerto agora na América”, desabafou. “Nunca pensei em estudar na Finlândia ou Noruega, mas agora esses lugares me parecem muito mais seguros.”
A decisão de Trump de cancelar vistos também atinge alunos já matriculados, como Fangzhou Jiang, da Harvard Kennedy School. Vice-presidente do governo estudantil da instituição, ele afirma estar se preparando para o pior.
“Tenho grandes alvos nas minhas costas. Sou chinês e estudo em Harvard. Não quero ser cegamente otimista”, declarou, revelando o clima de ansiedade generalizada.
Efeito dominó nas consultorias educacionais
Consultores educacionais em Xangai relatam, portanto, um aumento alarmante no número de cancelamentos de aplicações para universidades americanas. Zhou Huiying, fundadora da Lideyouwei Education, afirma que pelo menos 30% de seus clientes já desistiram dos EUA, e que esse número pode chegar a 50% se novas restrições forem anunciadas.
“Famílias de funcionários do governo ou membros do Partido Comunista estão especialmente preocupadas”, contou.
Esse comportamento marca uma mudança histórica no padrão de escolha: tradicionalmente, famílias chinesas focadas em educação de elite sequer cogitavam outros países. Agora, estão abrindo mão de Harvard ou MIT para garantir estabilidade e segurança.
Apesar das recomendações de algumas consultorias para aguardar possíveis mudanças na política, muitos estudantes não querem arriscar anos de investimento emocional, acadêmico e financeiro em um ambiente hostil.
A suspensão global das entrevistas de visto para estudantes estrangeiros, determinada nesta semana pelo secretário de Estado Marco Rubio, intensificou o clima de incerteza e pânico.
Um histórico de repressão
As novas medidas de Trump se somam a um histórico de restrições contra estudantes chineses. Em 2020, o governo dos EUA revogou mais de 1.000 vistos de estudantes e pesquisadores chineses, acusando-os de espionagem e vínculos com o Exército chinês. Na mesma época, rotulou o Confucius Institute US Center como “missão estrangeira” e obrigou a instituição a seguir regras diplomáticas rígidas.
Brian Wang, CEO da Blueprint Admissions, acredita que as restrições atuais miram um subconjunto específico de estudantes. Ainda, aqueles com “orientações políticas percebidas” ou vínculos acadêmicos sensíveis. Ele alerta, no entanto, que postagens em redes sociais e comportamento pessoal também podem influenciar decisões consulares.
Mesmo com a queda de 4% no número de estudantes chineses nos EUA no último ano letivo, a China continua sendo o segundo maior grupo internacional no país. Mas isso pode mudar rapidamente.
A repressão, contudo, ameaça esvaziar um fluxo que movimenta bilhões de dólares em matrículas, moradia e consumo local nas universidades americanas.
Para Anqi Dong, o sonho americano virou um pesadelo diplomático.
“Esses problemas com vistos afetam não só minha vida acadêmica, mas também minhas perspectivas profissionais. As portas estão se fechando rápido demais.”