
O ex-ministro do Turismo na gestão de Jair Bolsonaro (PL), Gilson Machado, foi preso nesta sexta-feira (13), em Recife (PE), por determinação da Polícia Federal (PF). A prisão ocorre no contexto das investigações que apuram tentativas de fuga e obstrução de Justiça envolvendo personagens centrais do suposto plano golpista atribuído ao entorno do ex-presidente.
De acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a própria PF, há indícios de que Machado tentou viabilizar a emissão de um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, deixar o Brasil.
A PGR já havia solicitado ao Supremo Tribunal Federal (STF), na última terça-feira (10), a abertura de investigação, além de pedidos de busca e apreensão e quebra dos sigilos telefônico e de mensagens de Gilson Machado.
Quem é Mauro Cid?
Figura-chave nos bastidores do governo Bolsonaro, Mauro Cid ganhou notoriedade por sua proximidade com o ex-presidente.
Foi o ajudante de ordens mais próximo de Bolsonaro, com acesso direto ao gabinete presidencial, ao Palácio da Alvorada e até aos quartos de hospital ocupados pelo ex-presidente.
Seu pai, o general Mauro Cesar Lourena Cid, é amigo pessoal de Bolsonaro desde os tempos da Academia Militar das Agulhas Negras.
Cid está no centro de inúmeras investigações: das fraudes nos cartões de vacinação à tentativa de golpe de Estado, passando pelo caso das joias sauditas e o financiamento de atos antidemocráticos.
Em setembro de 2023, firmou acordo de delação premiada com a PF, revelando detalhes explosivos sobre o funcionamento do chamado “gabinete do ódio”, a tentativa de manipulação dos relatórios das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas, e o envolvimento direto de aliados e familiares de Bolsonaro no planejamento de um golpe de Estado.
Delações: o que Cid revelou
A delação de Mauro Cid já provocou fortes repercussões e está organizada em 25 cláusulas. Entre os principais pontos revelados estão:
- Tentativa de golpe e núcleo radical: Cid apontou Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro entre os integrantes do grupo mais radical que insistia em tentar provar fraudes nas urnas e defender a intervenção militar.
- Venda de joias sauditas: Cid entregou pessoalmente a Bolsonaro US$ 86 mil em espécie, fruto da venda de relógios e joias recebidas como presente oficial de Estado, para evitar rastreamento bancário.
- Gabinete do ódio: Confirmou a atuação do núcleo comandado por Carlos Bolsonaro, com uso de assessores ligados à comunicação digital e campanhas de desinformação a partir do Palácio do Planalto.
- Pressão sobre o ministro da Defesa: Bolsonaro teria exigido do general Paulo Sérgio Nogueira que alterasse o relatório oficial das Forças Armadas para sugerir fraude nas eleições.
- Apoio às “motociatas”: O GSI teria comprado motos com recursos públicos para acompanhar Bolsonaro nos eventos.
- Abrigo a blogueiros: Bolsonaro teria autorizado a entrada de influenciadores aliados no Palácio da Alvorada para evitar suas prisões durante os atos golpistas de dezembro de 2022.
- “Sacolinha de vinho”: Cid revelou ter recebido dinheiro em espécie do general Braga Netto numa sacola de presente, supostamente para financiar atos golpistas.
Impactos políticos e novos desdobramentos
A prisão de Gilson Machado coloca ainda mais pressão sobre aliados do ex-presidente, principalmente diante do avanço dos inquéritos no STF.
O ministro Alexandre de Moraes já homologou diversas fases das investigações, inclusive quebrando o sigilo da delação de Cid e reforçando o vínculo direto entre o ex-presidente e os fatos narrados.