
- Encontros com suspeitos com 15 reuniões em meio a investigações
- CGU aponta que 97,6% dos aposentados sofreram descontos não autorizados
- Organização ligada a irmão de Lula está entre as investigadas
A presença da inteligência artificial ainda não foi suficiente para impedir fraudes no sistema previdenciário brasileiro. Desde o início do governo Lula (PT), representantes dos ministérios da Previdência Social, do Desenvolvimento Social e do INSS participaram de pelo menos 15 reuniões com organizações agora investigadas por desviar R$ 6,3 bilhões de aposentadorias e pensões.
O levantamento considera encontros realizados em 2023 (8), 2024 (5) e já em 2025 (2), mesmo com alertas da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal.
Entre os presentes nos encontros estão figuras de alto escalão, como Carlos Lupi (Previdência), Wellington Dias (Desenvolvimento Social) e Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS.
Stefanutto deixou o comando da autarquia no dia 23 de abril de 2025, após uma operação da PF e da CGU que revelou o esquema bilionário de descontos não autorizados nos benefícios previdenciários.
As entidades investigadas fazem parte da Operação Sem Desconto, que identificou retenções indevidas em benefícios de aposentados e pensionistas por meio de associações e sindicatos. Entre os investigados estão nomes como AAPB, AAPEN, AAPPS Universo, Contag, Sindnapi, CAAP e Unaspub, entre outros.
A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) foi a mais recebida pelo governo, com presença em 13 das 15 reuniões. Segundo a CGU, a entidade também foi a maior responsável pelos valores retidos dos beneficiários.
A confederação afirmou ter tratado, nos encontros, de temas ligados aos segurados rurais, incluindo medidas para regular os descontos. Assim, o que levanta ainda mais suspeitas sobre sua real atuação.
97,6% dos aposentados prejudicados, diz CGU
O alerta mais grave veio do relatório da Controladoria-Geral da União, divulgado apenas após a operação da PF em abril de 2025. Segundo o órgão, 97,6% dos aposentados e pensionistas entrevistados relataram, contudo, nunca ter autorizado qualquer desconto associativo em seus benefícios.
Das 1.273 pessoas ouvidas em todos os Estados, 96% disseram sequer participar de associações ou sindicatos. A auditoria identificou uma alta repentina nos valores retidos para mensalidades associativas, passando de R$ 706,2 milhões em 2022 para R$ 2,8 bilhões em 2024, assim, um salto de 296%.
O número de pedidos para cancelar os descontos também disparou. Em abril de 2024, o INSS recebeu 192 mil solicitações de bloqueio por meio de seus canais de atendimento.
Mesmo com esses dados alarmantes, os encontros do governo com as organizações investigadas continuaram. A CGU concluiu, portanto, que os descontos apresentavam uma “grande probabilidade de serem indevidos”. E, dessa forma, que o aumento brusco nos valores indicava uma atuação orquestrada e contínua por parte das associações.
Sindicato ligado ao irmão de Lula está entre os alvos
Entre as entidades investigadas, chama atenção o Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), ligado à Força Sindical. Em julho de 2023, a coordenadora jurídica da entidade, Tonia Galetti, esteve em reunião com Alessandro Stefanutto na sede do INSS, em Brasília.
O sindicato tem como vice-presidente José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico, irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A proximidade política reacendeu, no entanto, críticas sobre o nível de influência de entidades sindicais no governo e levantou suspeitas de possível conivência ou omissão por parte da alta cúpula administrativa.
A CGU revelou, portanto, que os pedidos para cessar os descontos aumentaram “acentuadamente” a partir da reunião com o Sindnapi. A sequência de encontros e a manutenção de diálogos oficiais com entidades já sob investigação colocam o governo em posição delicada.
A pressão por explicações públicas cresce. A oposição exige a convocação de ministros e ex-dirigentes do INSS no Congresso. Especialistas apontam que o episódio compromete a credibilidade da gestão previdenciária e exige reformas urgentes nos critérios de autorização de descontos em benefícios. Além de mais transparência na interlocução com organizações da sociedade civil.