
- Construção atravessa área protegida e desmata floresta tropical
- Governo estadual defende a infraestrutura, mas moradores e ambientalistas criticam o projeto
- Especialistas alertam para riscos à biodiversidade e às comunidades locais
A construção de uma nova rodovia de quatro faixas na Amazônia, projetada para melhorar o acesso a Belém durante a COP30, tem gerado preocupação entre ambientalistas e comunidades locais.
A estrada, que corta áreas protegidas e desmata mais de 13 km de floresta, é promovida pelo governo estadual como uma obra “sustentável”, mas críticos apontam para os danos irreversíveis ao ecossistema e à população.
Impacto ambiental e social
A Amazônia desempenha um papel fundamental na absorção de carbono e na preservação da biodiversidade. No entanto, a rodovia fragmenta o habitat natural, dificultando o deslocamento de espécies e reduzindo áreas de reprodução. Para moradores como Cláudio Verequete, que vivia da colheita de açaí, a destruição da vegetação significa perda de sustento.
“Tudo foi destruído, e não recebemos nenhuma compensação”, lamenta Verequete, que agora sobrevive com suas economias. Ele também teme que a infraestrutura facilite a ocupação ilegal e amplie o desmatamento.
Desconexão com as comunidades
Moradores próximos afirmam que a nova via não os beneficiará, pois muros impedirão o acesso direto.
“A estrada vai servir aos caminhões, não a nós. Se tivermos uma emergência, não poderemos usá-la”, critica um dos residentes.
O governo do Pará, por outro lado, defende que a obra beneficiará mais de 2 milhões de pessoas e que a licitação ocorreu antes da escolha de Belém como sede da COP30. Segundo a administração estadual, estão sendo implementadas soluções sustentáveis, como ciclovias, iluminação solar e 34 passagens para a fauna.
Prejuízo à biodiversidade
Para especialistas, as medidas anunciadas não são suficientes para mitigar os impactos da obra. Silvia Sardinha, veterinária especializada em vida selvagem, alerta para a perda de áreas essenciais para reintrodução de animais resgatados.
“Animais terrestres perderão conectividade com outras regiões, prejudicando sua sobrevivência”, explica.
COP30 e contradição ambiental
O governo federal aposta na COP30 para apresentar ao mundo seus esforços de proteção da Amazônia. O presidente Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, destacam que a conferência será “uma COP na Amazônia, e não sobre a Amazônia”. No entanto, moradores e ambientalistas sentem-se excluídos do debate.
“As decisões são tomadas entre governantes e empresários, sem ouvir quem vive na floresta”, critica Sardinha.
Com a rodovia em avanço e suas consequências visíveis, o dilema entre desenvolvimento e conservação ganha ainda mais relevância às vésperas da cúpula climática.