A visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à China rendeu um dos maiores pacotes de investimentos estrangeiros dos últimos anos no Brasil. Nesta segunda-feira (12), o governo brasileiro anunciou que empresas chinesas pretendem investir cerca de R$ 27 bilhões em diversos setores estratégicos da economia brasileira, como energia limpa, mobilidade elétrica, mineração e tecnologia.
A informação foi confirmada por Jorge Viana, presidente da ApexBrasil, após fórum com empresários em Pequim.
O anúncio é resultado direto da missão presidencial à Ásia, que incluiu uma passagem anterior pela Rússia, onde Lula se encontrou com Vladimir Putin e defendeu um cessar-fogo na guerra da Ucrânia.
Na China, o presidente é acompanhado por uma comitiva robusta: 11 ministros, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, parlamentares, autoridades e cerca de 200 empresários.
Um novo ciclo de cooperação econômica
Os investimentos chineses abrangem uma ampla gama de setores:
- Great Wall Motors (GWM), gigante do setor automotivo, destinará R$ 6 bilhões para ampliar suas operações de carros elétricos no Brasil.
- A Meituan, empresa de delivery, planeja aportar R$ 5 bilhões para lançar o aplicativo “Keeta”, prometendo 4 mil empregos diretos e até 100 mil indiretos.
- A estatal CGN investirá R$ 3 bilhões na criação de um hub de energia renovável no Piauí.
- A Envision aportará até R$ 10 bilhões em um parque industrial net-zero, com foco em combustíveis sustentáveis, hidrogênio e amônia verdes.
- A rede de bebidas Mixue chega ao Brasil com R$ 3,2 bilhões, prometendo 25 mil empregos até 2030.
- A mineradora Baiyin Nonferrous anunciou a compra da mina de cobre Serrote (AL), em operação avaliada em R$ 2,4 bilhões.
- A DiDi, que opera a 99 no Brasil, vai expandir o setor de delivery e construir 10 mil pontos públicos de recarga para carros elétricos.
- A Longsys destinará R$ 650 milhões para ampliar a produção de semicondutores em São Paulo e Amazonas.
- Parcerias da brasileira Nortec Química com três farmacêuticas chinesas preveem R$ 350 milhões em uma nova plataforma de produção de IFAs (Insumos Farmacêuticos Ativos).
Além disso, a ApexBrasil firmou acordos para promover o café brasileiro com a Lickin Coffee, o cinema nacional com a Huaxia Film e produtos brasileiros no varejo chinês com a Hotmaxx.
Brasil como ponte estratégica em cenário global
Segundo Lula, a China tem sido injustamente retratada como inimiga comercial. “Na verdade, a China se comporta como um exemplo de país que busca negócios com nações esquecidas por outras potências nas últimas décadas”, afirmou.
Nesse sentido, ele também destacou que, na última década, a China passou da 14ª para a 5ª posição no ranking de investimento direto no Brasil, com um estoque de mais de US$ 54 bilhões.
A viagem também busca ampliar a conectividade aérea entre os países e incentivar o intercâmbio turístico.
A princípio, a agenda de Lula segue com um esperado encontro com o presidente chinês Xi Jinping nesta terça-feira (13) — o terceiro desde que Lula reassumiu a Presidência em 2023.
O agro na vitrine e o Brasil como alternativa global
A ApexBrasil identificou 400 oportunidades comerciais com a China, com destaque para o agronegócio, setor que ganhou um novo escritório em Pequim para facilitar exportações de carne brasileira.
Dessa forma, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também integra a comitiva e trabalha para destravar acordos que agilizem o registro de produtos biotecnológicos no mercado chinês.
Em meio à guerra comercial entre EUA e China, o Brasil surge como alternativa estratégica para abastecer o mercado chinês, consolidando-se como parceiro comercial e receptor de investimentos de ponta.