
- Parte dos auxiliares de Lula prega cautela, enquanto outra ala exige resposta imediata às ameaças americanas.
- Gleisi Hoffmann cobra posição oficial e acusa Eduardo Bolsonaro de conspirar com a extrema-direita dos EUA.
- Possível uso da Lei Magnitsky contra Moraes pode tensionar relações entre Brasil e Estados Unidos.
Diante da ameaça de sanções dos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF, o governo Lula opta pela cautela. Enquanto parte da equipe presidencial defende evitar confronto direto com Donald Trump, outra ala pressiona por uma resposta firme, alegando que o caso já ultrapassa o campo diplomático e atinge a soberania do Brasil.
Declaração de Rubio acende alerta no Planalto
A tensão começou a escalar após uma declaração contundente do secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, na última quarta-feira (21). Durante audiência no Congresso dos EUA, ele afirmou que há “grande possibilidade” de sanções contra Alexandre de Moraes, sob acusação de violar direitos humanos. A fala teve forte repercussão no Brasil e, nos bastidores, o governo federal passou a tratar o assunto como uma possível interferência externa nos assuntos internos do país.
Embora o governo Lula já estivesse monitorando esse risco, a manifestação pública de Rubio acendeu o sinal vermelho. O temor é que a eventual aplicação da Lei Magnitsky — legislação americana que permite sanções contra estrangeiros acusados de violações de direitos humanos — crie um precedente perigoso para o Judiciário brasileiro.
Apesar da gravidade do cenário, integrantes do Palácio do Planalto avaliam que uma resposta apressada poderia alimentar a retórica bolsonarista. Afinal, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), principal articulador da denúncia contra Moraes nos EUA, está diretamente envolvido na movimentação diplomática.
Divisão interna impede reação imediata
A cautela do governo também reflete uma divisão interna entre os auxiliares de Lula. De um lado, há quem defenda que é estratégico evitar o confronto direto neste momento. Segundo esses conselheiros, reagir agora seria dar palco a opositores e comprometer outras negociações com Washington — como a tentativa de atenuar os efeitos do tarifaço americano sobre o aço brasileiro.
Por outro lado, cresce a pressão de aliados que veem a ameaça como um ataque à soberania. Para esse grupo, silenciar diante da ofensiva seria interpretar o papel de omisso, especialmente porque o episódio envolve diretamente figuras da extrema-direita e poderá repercutir nas eleições de 2026.
Além disso, esse setor considera urgente a construção de um discurso público que trate o caso não como uma defesa de Moraes, mas como um repúdio à tentativa de influência estrangeira sobre o Judiciário nacional.
Gleisi pressiona por resposta oficial
Em meio à hesitação do Executivo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, decidiu se manifestar. Em uma publicação nas redes sociais, ela acusou Eduardo Bolsonaro de conspirar com a extrema direita americana. Segundo ela, “a ameaça do secretário de Estado dos EUA ao ministro Alexandre de Moraes merece repúdio”, destacando ainda o risco de intervenção sobre decisões legítimas da Justiça brasileira.
A fala de Gleisi, embora não represente uma posição oficial do governo, foi interpretada como um recado ao Itamaraty. Nos bastidores, aliados avaliam que a diplomacia brasileira não pode mais se omitir, sob risco de enfraquecer a imagem do país diante de seus parceiros internacionais.
Enquanto isso, o presidente Lula mantém silêncio sobre o caso. A expectativa no Planalto é que o mandatário só se posicione formalmente caso as sanções sejam de fato implementadas. Até lá, a estratégia é ganhar tempo e observar os próximos movimentos da Casa Branca.
Estados Unidos mantêm posição dura
O Departamento de Estado norte-americano ainda não detalhou quais medidas seriam aplicadas. Entretanto, sanções como a proibição de entrada em território americano ou o bloqueio de bens pessoais estão entre as possibilidades.
Embora não haja confirmação oficial, parlamentares republicanos sugerem que Moraes violou princípios básicos de liberdade de expressão e julgamento justo — acusações que ecoam o discurso bolsonarista.
A eventual adoção de sanções abriria uma crise diplomática inédita entre os dois países. Para analistas internacionais, isso criaria um ambiente delicado para a política externa brasileira, exigindo habilidade para proteger a soberania sem sacrificar interesses estratégicos.