
- A China usa superprodução e manipulação econômica para dominar mercados globais — e ameaça a indústria de países como o Brasil.
- Os EUA respondem com tarifas e reindustrialização; o Brasil ainda hesita — mas precisa enfrentar o dumping e proteger sua produção.
- O nearshoring é chance histórica para o Brasil atrair fábricas — se investir logo em infraestrutura, inovação e acordos comerciais.
A nova guerra industrial está em curso. China e Estados Unidos travam um duelo pelo controle das cadeias produtivas globais. Entre eles, países como o Brasil enfrentam um dilema estratégico: agir para proteger sua indústria ou assistir ao desmonte silencioso da própria capacidade produtiva.
Conflito comercial assume novo formato
Mais do que disputas tarifárias ou diplomáticas, a nova fase da economia mundial revela um embate direto entre modelos de desenvolvimento. De um lado, os Estados Unidos usam subsídios e barreiras para recuperar empregos e fábricas. De outro, a China exporta superprodução subsidiada, mascarando sua crise estrutural com estatísticas duvidosas. O resultado é uma pressão imensa sobre os mercados de países em desenvolvimento.
Esse cenário exige decisões rápidas e firmes. Nesse sentido, o Brasil, como potência regional e detentor de uma base industrial ainda significativa, não deveria continuar ignorando o impacto das práticas chinesas sobre sua economia. Pois, se continuar inerte, terá cada vez menos condições de competir.
Além disso, o silêncio brasileiro diante do dumping chinês não é apenas diplomático — é prejudicial. Afinal, enquanto setores inteiros fecham as portas, o país perde empregos, tecnologia e capacidade de liderar em segmentos estratégicos.
Crise chinesa por trás da agressividade
Em 2023, o economista-chefe Gao Shanwen, ligado ao governo chinês, fez declarações bombásticas. Ele revelou que o PIB real da China estava crescendo bem abaixo dos números oficiais e que o desemprego entre os jovens superava os 40%. Pouco depois, foi silenciado pelo regime.
Essas denúncias expõem a face oculta da potência asiática. A China, hoje, sustenta seu crescimento com dívida, repressão ao consumo interno e exportação agressiva. Mais de 33% dos carros produzidos no mundo em 2024 saíram de fábricas chinesas. No setor de aço, o país responde por 54,6% da produção global.
Portanto, esse excesso é despejado sobre o mercado externo porque o consumo interno está travado. Desse modo, o sistema de registro domiciliar, o hukou, impede a mobilidade da população rural e limita o poder de compra de centenas de milhões de pessoas.
Reação dos EUA e omissão brasileira
Diante dessa avalanche, os EUA decidiram reagir. Donald Trump iniciou o processo com tarifas. O país quer recuperar seu protagonismo industrial e não esconde que está disposto a proteger sua economia com firmeza.
A Europa, por sua vez, hesita. Dividida entre princípios liberais e a necessidade de defender empregos, o continente sofre os efeitos de anos de dependência da produção asiática.
O Brasil, no entanto, continua paralisado. Apesar de sofrer os impactos da concorrência desleal chinesa, evita medidas assertivas. O temor de prejudicar relações comerciais parece superar o compromisso com a soberania industrial.
Nearshoring: a chance de virar o jogo
Apesar das ameaças, existe uma oportunidade concreta: o movimento de nearshoring, ou seja, a transferência de fábricas para países mais próximos dos centros consumidores. México, Vietnã e Índia já se beneficiam desse reposicionamento.
O Brasil, com sua matriz energética limpa, infraestrutura razoável e base industrial ociosa, tem todas as condições de entrar nesse jogo. Mas, para isso, precisa agir com estratégia. Reduzir a insegurança jurídica, modernizar portos e rodovias e fechar novos acordos comerciais são passos essenciais.
Além disso, o país precisa escolher os setores nos quais pode liderar. Portanto, não se trata de competir com a China em todos os fronts, mas de apostar em segmentos como agroindústria de alta tecnologia, saúde, energia limpa e semicondutores.