Embate fiscal

Haddad ataca imprensa e nega que crise do IOF vá travar isenção do IR para pobres

Após derrota no Congresso, ministro reage a perguntas sobre desgaste e diz que oposição quer ameaçar benefício de até R$ 5 mil.

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  • Haddad nega que impasse do IOF afete isenção do IR e reage a jornalista com tom ríspido.
  • Ministro acusa imprensa de tentar “subverter” debate e diz que Congresso não rompeu com o Executivo.
  • Crise entre Planalto e Congresso segue após derrota histórica e judicialização do aumento do IOF.

Fernando Haddad elevou o tom. Em declaração dada nesta quarta-feira (2), o ministro da Fazenda disse não acreditar que a crise gerada pela derrubada do decreto do IOF possa atrapalhar a prometida reforma do Imposto de Renda. Sendo assim, em entrevista na Argentina, após reunião com autoridades, ele reagiu com dureza à hipótese de o Congresso retaliar o Executivo por causa da judicialização do tema no STF.

“Você está sugerindo que o Congresso vai prejudicar a população mais pobre por conta de uma pergunta feita ao Supremo? Está insinuando isso?”, disparou, em tom crítico, após pergunta de uma jornalista. Mesmo assim, a repórter insistiu, dizendo ter recebido essa sinalização de parlamentares. Então, Haddad rebateu: “Não recebi isso de líder nenhum. Se você recebeu, deveria tornar público.”

Crise escancarada entre Poderes: Haddad diz que Executivo não deixou a mesa de negociação

O clima entre os Poderes segue tenso. Após o Congresso derrubar o aumento do IOF, imposto que renderia R$ 12 bilhões à Fazenda, Haddad minimizou o impasse e afirmou que a ida ao STF foi um “caminho legal”. Logo, segundo ele, a imprensa estaria tentando “subverter a ordem dos fatores” ao sugerir que o Executivo quebrou o diálogo com o Legislativo.

“Quem saiu da mesa não fomos nós. Estávamos negociando e, de repente, fomos surpreendidos”, afirmou, referindo-se à votação que foi anunciada de última hora por Hugo Motta (Republicanos-PB) e aprovada com 383 votos na Câmara.

Mesmo assim, Haddad garantiu que não vê motivos para que essa derrota respingue na tramitação da reforma do IR, que prevê isenção para quem ganha até R$ 5 mil. Portanto, “Se isso acontecer, será uma ameaça contra os mais pobres”, reforçou.

Governo insiste na “taxação BBB” para dividir o debate entre ricos e pobres

A fala do ministro também deixou claro que ele continua sendo o porta-voz da nova estratégia de comunicação do governo: o confronto entre ricos e pobres. Nesse sentido, “A especulação favorece bilionários, bancos e bets”, disse, ecoando o slogan da campanha “taxação BBB”, que vem sendo promovida pelo PT e aliados para defender a nova política tributária.

Ademais, a tentativa é clara: usar o discurso social para mobilizar apoio popular. Assim, Lula e a Secom apostam que esse embate de narrativas pode neutralizar as perdas políticas sofridas no Congresso.

No entanto, a reação do mercado e do Legislativo mostra que a oposição está mais organizada do que o Planalto previa.

Cronologia: o desmonte do decreto do IOF e o desgaste do governo Lula

  • Maio (início) – O Ministério da Fazenda publica um decreto aumentando o IOF com objetivo de reforçar a arrecadação federal. A estimativa inicial era de impacto positivo de R$ 20,1 bilhões em 2025.
  • Maio (na madrugada) – Após forte reação de setores econômicos e parlamentares, a equipe de Fernando Haddad recua parcialmente. O valor projetado cai para R$ 19,1 bilhões.
  • Maio (meados) – Em reunião com os presidentes do Senado (Davi Alcolumbre) e da Câmara (Hugo Motta), o governo recebe um prazo de 10 dias para apresentar alternativas à medida, já sob pressão de rejeição.
  • Junho (início) – Nova rodada de negociações. Haddad anuncia redução do reajuste do IOF e promete uma medida provisória com outros aumentos tributários compensatórios. A expectativa de arrecadação recua para R$ 12 bilhões.
  • Junho (meados) – O governo envia a MP com mudanças no modelo de compensação tributária e ajustes em impostos. A previsão de reforço de caixa cai novamente, ficando em torno de R$ 10 bilhões.
  • Junho (20s) – A Câmara aprova a urgência para votar o projeto que derrubaria o decreto do IOF, deixando Haddad e o Planalto em alerta.
  • 25 de junho (noite) – De forma inesperada, o presidente da Câmara anuncia às 23h35, pelas redes sociais, que o projeto será votado naquela mesma noite.
  • 25 de junho (madrugada) – Em uma das piores derrotas do governo Lula no Congresso, a Câmara aprova a revogação do decreto com 383 votos a favor e 98 contra.
  • 26 de junho – O Senado confirma a decisão em votação simbólica, sem contagem nominal, selando o revés do governo no Legislativo.
  • 1º de julho – Sem apoio político, o Executivo leva o caso ao Supremo Tribunal Federal, pedindo que a Corte considere inconstitucional a derrubada do decreto. O objetivo: resgatar o aumento do IOF pela via judicial.
Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.