Distorções públicas

Haddad mente sobre dados econômicos: veja o que é verdade

Ministro da Fazenda comete pelo menos quatro imprecisões sobre carga tributária, déficit e infraestrutura em menos de uma semana.

Haddad
Foto/Reprodução: Fernando Haddad
  • Haddad afirmou que a carga tributária atual é menor que há 10 anos, mas dados mostram aumento
  • Ministro distorceu indicadores sobre déficit, infraestrutura e herança fiscal do governo Bolsonaro
  • Dívida pública aumentou R$ 1,87 trilhão sob Lula, apesar de Haddad tentar transferir responsabilidade

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enfrenta nova onda de críticas após repetir uma série de declarações imprecisas sobre os dados econômicos do país.

Entre os dias 22 e 26 de maio, ele cometeu ao menos quatro distorções públicas ao comparar indicadores do governo Lula com os do governo anterior, de Jair Bolsonaro (PL). As falas aconteceram em eventos oficiais e entrevistas, incluindo a celebração do Dia Nacional da Indústria, organizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), em Brasília.

A primeira declaração controversa ocorreu na segunda-feira (26). Haddad afirmou que “a carga tributária federal, a receita primária federal, é menor do que 10 anos atrás”. A fala gerou reação imediata entre especialistas, pois os dados disponíveis mostram o contrário: tanto a carga tributária quanto a receita primária da União subiram desde 2014.

A carga tributária total passou de 32,4% do PIB, em 2014, para 33,7% em 2023, segundo dados da Receita Federal. Já a receita primária também apresentou crescimento. Ou seja, o ministro confundiu indicadores e apresentou uma versão equivocada da realidade fiscal.

Cenário fiscal

Ainda no mesmo evento, Haddad voltou a responsabilizar o governo anterior pelo cenário fiscal atual. Ele afirmou que o governo Lula herdou um déficit estrutural de 2% do PIB. No entanto, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do próprio Ministério da Fazenda revisou, em janeiro deste ano, a metodologia de cálculo dos déficits estruturais.

A nova metodologia mudou o resultado de 2022 (antes positivo em 0,71% do PIB) para negativo em 0,6%. Com isso, os próprios dados usados para fundamentar o argumento são questionáveis, já que foram recalculados sob nova ótica pela atual gestão.

Haddad também alegou que, ao final do governo Bolsonaro, os investimentos públicos em infraestrutura estavam “próximos de zero”. A declaração foi categórica: “Nós não tínhamos mais obras no país de infraestrutura”, disse o ministro.

Contudo, dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) mostram que, embora os investimentos públicos tenham de fato recuado entre 2019 e 2022, eles jamais chegaram perto de zero. Além disso, a iniciativa privada compensou parte dessa queda, mantendo os investimentos totais em patamar significativo.

PIB e déficit

Outro ponto de polêmica foi a declaração de Haddad, em entrevista no dia 22 de maio, de que o Brasil enfrentou “10 anos de déficit crônico, na casa de 2% do PIB”. O ministro se referia à situação das contas públicas ao longo da última década.

No entanto, ele omitiu o fato de que, em 2022, o governo Bolsonaro registrou superávit primário de aproximadamente R$ 54 bilhões. Além disso, nos dois últimos anos de sua gestão (já após o auge da pandemia) o resultado acumulado também foi positivo, em cerca de R$ 10 bilhões. Ao não mencionar esse dado, Haddad pintou um quadro mais grave do que os números efetivamente mostram.

Por fim, em 8 de abril, o ministro alegou que o aumento da dívida pública não era responsabilidade do governo atual. Segundo ele, “é consequência de decisões tomadas no passado”.

Porém, os dados do Tesouro mostram que, desde o início do terceiro mandato de Lula, o endividamento do governo central aumentou R$ 1,87 trilhão. Contudo, evidência de que a atual gestão também tem sua parcela de responsabilidade na deterioração fiscal.

A sucessão de declarações incorretas evidencia um padrão preocupante: a tentativa do governo de reescrever parte da realidade econômica por meio de discursos enviesados.

Com isso, cresce a pressão sobre Haddad em meio às discussões sobre metas fiscais, reforma tributária e credibilidade frente ao mercado.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.