A política brasileira voltou a ser palco de um grande escândalo de corrupção, desta vez atingindo diretamente o coração da Previdência Social. Uma fraude bilionária no INSS, onde dinheiro de aposentados e pensionistas foi desviado para associações e sindicatos suspeitos, está gerando uma forte crise política para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Analistas e membros da oposição já começam a comparar a dimensão do caso ao esquema investigado na Operação Lava Jato.
A reação no Congresso foi imediata. Um pedido para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o caso conseguiu reunir cerca de 70 assinaturas em menos de 48 horas. A pressão agora se volta para o Ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, um aliado de longa data de Lula, com parlamentares exigindo sua demissão e investigação. A Controladoria-Geral da União (CGU) já apura irregularidades que podem somar pelo menos R$ 6,5 bilhões desviados desde 2019.
O líder da oposição na Câmara, deputado Luciano Zucco (PL-RS), não poupou palavras, afirmando que o Brasil enfrenta “um dos episódios mais sórdidos e revoltantes” da história da Previdência, classificando a situação como um “assalto institucionalizado”. Zucco foi além, alegando que “essas associações possuem vínculos políticos escancarados com a esquerda brasileira, inclusive com o partido que hoje ocupa o Palácio do Planalto”.
Diante da crise, o governo tenta agir para controlar os danos. A Secretaria de Comunicação (Secom), chefiada pelo ministro Sidônio Palmeira, busca unificar o discurso oficial. A estratégia é afirmar que foi o próprio governo quem investigou as denúncias e que a fraude não foi no INSS, mas sim contra os aposentados, prometendo repressão firme. Há também uma movimentação para tentar associar o início do problema ao governo anterior, de Jair Bolsonaro. Contudo, o governo ainda não conseguiu explicar de forma convincente por que demorou para tomar medidas mais drásticas. A promessa é de que os aposentados serão ressarcidos integralmente, mas ainda não há um plano detalhado de como isso ocorrerá.
Analistas políticos apontam que o escândalo deve ter impactos imediatos na popularidade de Lula. Raquel Alves, da BMJ Consultores Associados, vê o caso como uma notícia de “repercussão negativa” que impõe um novo desafio à comunicação do governo. Gilmar Arruda, estrategista eleitoral, considera o momento péssimo para o governo, que terá que “atuar mais uma vez na defensiva”, desviando o foco de pautas positivas.
A primeira cabeça a rolar foi a do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, demitido por Lula na noite de quarta-feira (24). No entanto, a oposição quer mais e mira diretamente em Carlos Lupi, que indicou Stefanutto para o cargo. “É impossível acreditar que tudo isso ocorria sem o conhecimento de seus superiores. Lupi já deveria estar exonerado“, declarou Zucco. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) já anunciou que pedirá informações e quer convocar o ministro para dar explicações na Comissão de Fiscalização da Câmara.
Apesar da pressão, a demissão de Lupi é considerada improvável por analistas, dado seu status de aliado e presidente do PDT. Contudo, seu desgaste político é inegável. Relatos de bastidores indicam tensão no Planalto: Lula teria cobrado a demissão de Stefanutto mais cedo, mas Lupi teria resistido inicialmente, forçando a Casa Civil, de Rui Costa, a oficializar a exoneração. Essa não é a primeira vez que Lupi se vê em meio a polêmicas; ele já deixou o Ministério do Trabalho sob Dilma Rousseff após escândalos envolvendo o uso de avião de empresário e irregularidades em convênios com ONGs ligadas ao seu partido. A crise atual reabre velhas feridas e coloca Lupi novamente sob os holofotes, pressionado a dar respostas sobre a gestão de uma das pastas mais sensíveis do governo.