Crise do gás

Na Venezuela, população está queimando os próprios móveis para cozinhar

Com a falta de gás propano, venezuelanos recorrem à queima de galhos e móveis para cozinhar, enfrentando crise alimentar.

Na Venezuela, população está queimando os próprios móveis para cozinhar

A escassez de gás propano na Venezuela está forçando os moradores a recorrer a soluções improvisadas para cozinhar, como a queima de galhos de árvores e pedaços de móveis em fogões à lenha. A situação se agrava em um país já sobrecarregado pela inflação e pela crise econômica. Não há um cronograma do governo para restaurar as vendas de propano, três semanas após uma explosão em uma usina de processamento que prejudicou o fornecimento do combustível amplamente utilizado para cozinhar.

A escassez de gás se tornou tão grave que os habitantes de Caracas e de outras regiões estão utilizando churrasqueiras a carvão ou elétricas para preparar suas refeições. Os governos locais estão racionando o propano, e as redes sociais estão repletas de imagens de longas filas de pessoas que esperam dias para reabastecer seus botijões de gás.

Soluções Improvisadas e Seus Riscos

No bairro de Petare, uma área empobrecida de Caracas, os moradores estão fervendo panelas de água sobre a lenha para cozinhar hallacas, uma tradicional refeição de feriado que inclui carne bovina, suína e de frango, enrolada em folhas de bananeira. Em algumas situações, eles adicionam materiais de embalagem de espuma plástica e outros detritos para alimentar o fogo. A fumaça resultante não apenas incomoda, mas também representa um perigo à saúde. A poluição do ar residencial causada pela queima de combustíveis como a madeira é responsável por mais de 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo, com mulheres e crianças sendo as mais afetadas, segundo a Organização Mundial da Saúde.

“Estou construindo um pequeno fogão com tijolos para cozinhar com carvão”, disse Elena Guzman, residente de Palo Negro, no estado de Aragua, a 100 quilômetros de Caracas. “Emprestei meu botijão de propano para minha mãe e ela já o usou todo.”

Controle Estatal e Consequências da Crise

A escassez de gás propano ocorre quatro anos após os militares da Venezuela assumirem temporariamente o controle da distribuição do combustível e racionarem as entregas após um incêndio em uma usina de processamento. Os problemas recentes começaram em 11 de novembro, quando uma explosão em um complexo de gás natural no estado de Monagas prejudicou o fornecimento. Embora a produção de gás natural tenha sido restaurada, a produção de propano ainda está cerca de 70% abaixo dos níveis anteriores à explosão, conforme dados obtidos pela Bloomberg.

O Ministério da Informação da Venezuela e a empresa estatal de petróleo, Petroleos de Venezuela (PDVSA), não comentaram sobre a situação. O uso de lenha e outras alternativas ao propano é mais comum em áreas fora de Caracas, onde o fornecimento de energia é mais frágil.

“Os distribuidores locais me disseram para racionar o que tenho porque a PDVSA está racionando, e eles não sabem quando o caminhão de gás chegará”, disse Juana Rodríguez, que mora em La Guaira, perto de Caracas. Ela está sem combustível há mais de duas semanas.

O governo atribuiu a explosão a “ataques terroristas” de “extremistas” que visavam “o coração do sistema de gás natural do país”. Pelo menos 11 pessoas foram presas, segundo a vice-presidente Delcy Rodríguez, uma semana após o desastre. Agora, as autoridades em estados como Anzoátegui, Táchira, Barinas e Nueva Esparta estão racionando os suprimentos e restringindo as vendas.

A dificuldade em encontrar combustível se soma a um aumento de 16,6% nos preços gerais ao consumidor nos primeiros dez meses deste ano, exacerbando ainda mais a crise enfrentada pela população venezuelana. A combinação da escassez de gás propano e a inflação crescente está tornando a vida cotidiana cada vez mais desafiadora para os venezuelanos, que lutam para atender às suas necessidades básicas.

Fernando Américo
Sou amante de tecnologias e entusiasta de criptomoedas. Trabalhei com mineração de Bitcoin e algumas outras altcoins no Paraguai. Atualmente atuo como Desenvol
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