Escolha Polêmica

"Fica Frio": Governo distribui cartilha ensinando como portar drogas

Material da Frente Mineira de Drogas, inicialmente selecionado para prêmio federal, gera controvérsia ao oferecer orientações sobre porte de entorpecentes; governo recua após críticas.​

Imagem/Reprodução: Governo Federal logo
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  • A seleção da cartilha “Fica Frio”, que orienta sobre o porte de drogas, para um prêmio federal gerou polêmica.
  • O governo federal suspendeu a premiação da cartilha após críticas de diversos setores da sociedade.
  • O episódio destaca a importância de critérios rigorosos e abordagens baseadas em evidências nas políticas de prevenção ao uso de drogas.​

A cartilha “Fica Frio”, produzida pela Frente Mineira de Drogas, gerou polêmica ao ser selecionada para o Prêmio Maria Lúcia Pereira, promovido pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública. O material orienta jovens sobre como portar drogas sem chamar a atenção da polícia. Muitos interpretaram o conteúdo como um incentivo ao uso de entorpecentes. Como consequência, o governo federal suspendeu a premiação da cartilha.

Cartilha “Fica Frio” e sua proposta

A Frente Mineira de Drogas desenvolveu a cartilha “Fica Frio” para fornecer informações sobre a redução de danos no uso de substâncias ilícitas. Sendo assim, o material orienta como portar drogas para evitar abordagens policiais. Também sugere evitar locais visados por policiais e andar em grupo ao carregar entorpecentes. Segundo os autores, a intenção era promover a segurança dos usuários e reduzir os riscos associados ao consumo de drogas.

No entanto, diversos setores da sociedade consideraram controversa a abordagem adotada na cartilha. Críticos argumentam que o material incentiva o uso de drogas, em vez de ser uma ferramenta educativa voltada para a prevenção e redução de danos. Dessa forma, a inclusão da cartilha entre os finalistas do Prêmio Maria Lúcia Pereira intensificou o debate sobre a adequação de tais materiais em políticas públicas.

Desse modo, a Frente Mineira de Drogas defendeu o conteúdo da cartilha. Afirmou que ela visa fornecer informações práticas para reduzir os riscos enfrentados pelos usuários. Isso é especialmente importante em comunidades vulneráveis. A organização destacou a importância de adotar abordagens que considerem a realidade vivida por esses grupos, com foco na promoção de saúde e segurança.

Repercussão e resposta do governo

A seleção da cartilha para o Prêmio Maria Lúcia Pereira gerou críticas de diversos setores. Entre os críticos, estão parlamentares, especialistas em segurança pública e representantes da sociedade civil. Muitos consideraram a inclusão do material inadequada, interpretando-o como um estímulo ao uso de drogas. Em razão disso, a pressão levou o Ministério da Justiça e Segurança Pública a suspender a premiação da cartilha.

Em nota, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad) afirmou que a seleção do material foi um equívoco e que o conteúdo não coaduna com as diretrizes do prêmio. O Ministério da Justiça reforçou seu compromisso com políticas de prevenção ao uso de drogas baseadas em evidências científicas e respeito às leis vigentes.

A polêmica, portanto, evidenciou a necessidade de critérios mais rigorosos na seleção de materiais educativos sobre drogas, especialmente aqueles voltados para o público jovem. O episódio também levantou questões sobre a abordagem das políticas de drogas no país e a importância de estratégias de prevenção que considerem as particularidades culturais e sociais das comunidades afetadas.

Políticas de prevenção em foco

A controvérsia em torno da cartilha “Fica Frio” ocorre em um momento em que o governo federal busca fortalecer políticas de prevenção ao uso de drogas. O Ministério da Justiça lançou recentemente o Programa Cria: Prevenção e Cidadania, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o objetivo de capacitar profissionais da educação para prevenir o uso de drogas entre crianças e adolescentes.

O governo implementará o programa inicialmente em escolas públicas dos estados do Ceará e do Piauí, além de cidades paulistas como Araraquara, Cordeirópolis e São Paulo. A meta é alcançar 163 municípios prioritários até 2026, promovendo estratégias de desenvolvimento de habilidades, fortalecimento de vínculos sociais e novos parâmetros de acolhimento dos estudantes.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, destacou a importância de ações educativas e de saúde pública na prevenção ao uso de drogas, além das medidas de repressão. Especialistas consideram essencial o enfoque na educação e na saúde pública para fortalecer a resiliência das comunidades vulneráveis diante do assédio do crime organizado.

Caminhos para políticas eficazes

A suspensão da premiação da cartilha “Fica Frio” evidencia a necessidade de critérios mais rigorosos na seleção de materiais educativos sobre drogas. Especialistas defendem que políticas de prevenção devem ser baseadas em evidências científicas e envolver a participação de educadores, profissionais de saúde e a comunidade em geral.

A abordagem de redução de danos, embora reconhecida internacionalmente, deve ser adaptada ao contexto local e considerar as particularidades culturais e sociais. Assim, a polêmica em torno da cartilha reforça a importância de estratégias de prevenção que promovam o debate informado e respeitem as leis vigentes.

O episódio também destaca a necessidade de transparência e responsabilidade na elaboração e divulgação de materiais educativos sobre drogas. A construção de políticas eficazes requer diálogo entre governo, sociedade civil e especialistas, visando à proteção e ao bem-estar da população, especialmente dos jovens.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.