Se você está começando a investir e acompanha o noticiário de economia, provavelmente já ouviu falar da OPEP+, um grupo de países que influencia fortemente o mercado de petróleo no mundo. Mas o que isso tem a ver com seus investimentos? Vamos te explicar de forma simples.
A OPEP+ é um grupo formado pelos países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e outros países com grande produção de petróleo, como a Rússia, México, Cazaquistão e outros. Eles se reúnem regularmente para decidir quanto petróleo será produzido e colocado no mercado. Essas decisões são importantes porque influenciam o preço do petróleo no mundo todo.
Aumento da Produção
Recentemente, a OPEP+ anunciou que vai acelerar os aumentos na produção de petróleo e pode colocar até 2,2 milhões de barris por dia de volta ao mercado até novembro. Essa medida foi impulsionada pela Arábia Saudita, que quer pressionar países como Iraque e Cazaquistão, que vêm produzindo acima do que foi combinado entre os integrantes da organização.
Em abril, a OPEP+ já tinha surpreendido o mercado ao anunciar um aumento de produção maior do que o esperado para o mês de maio, mesmo com os preços do petróleo em baixa e a demanda ainda fraca. A ideia dos sauditas foi clara: parar de sustentar o mercado sozinhos e exigir que todos respeitem as regras do grupo.
Essa nova postura da Arábia Saudita acontece justamente em um momento de tensão internacional. O então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estava prestes a visitar o país para discutir acordos de armas e energia. Trump vinha cobrando mais produção de petróleo para reduzir os preços da gasolina nos EUA, que enfrentam uma pressão de inflação.
Com esse movimento, a Arábia Saudita dá sinais de que quer aumentar sua fatia no mercado global. Depois de anos tentando equilibrar os preços com cortes de produção, agora o reino parece disposto a abrir mão e competir por mais espaço.
Vale lembrar que a OPEP+ vinha reduzindo sua produção desde 2022, com cortes que somam quase 5 milhões de barris por dia — o equivalente a 5% da demanda global. Parte desses cortes era voluntária, e o plano original era manter essas reduções até o final de 2026. Mas em abril, o grupo decidiu acelerar a retomada da produção.
Com isso, em abril, maio e junho, a OPEP+ já planeja liberar quase 1 milhão de barris por dia. E segundo fontes internas, se os países que estão descumprindo os acordos não se ajustarem, novos aumentos devem acontecer em julho e nos meses seguintes. A mensagem é clara: quem não colaborar, vai ver o mercado se abrir — e os preços caírem.
Impacto nas petroleiras brasileiras
Essa possível queda nos preços do barril de petróleo levanta um ponto de atenção importante para investidores: como isso afeta as empresas brasileiras do setor? Para responder essa pergunta, é importante entender dois conceitos: lifting cost e breakeven.
O lifting cost é o custo direto de extração do petróleo, ou seja, quanto a empresa gasta para tirar o barril do solo. Já o breakeven (ou ponto de equilíbrio) é o preço mínimo que o barril precisa alcançar para que a empresa consiga cobrir todos os seus custos — não só os operacionais, mas também administrativos, financeiros e de investimentos.
Começando pela Petrobras, a maior petroleira do Brasil, o custo médio de equilíbrio dos seus projetos de exploração e produção gira em torno de US$ 45 por barril, segundo declarações da própria empresa no fim de 2024.
Algumas análises independentes apontam que o breakeven geral da Petrobras está abaixo de US$ 50, o que significa que a empresa é relativamente resiliente mesmo com o petróleo em queda. Um dado importante: o lifting cost da Petrobras no fim de 2024 foi de apenas US$ 7,59 por barril, o que mostra que a operação em si é bastante eficiente.
No caso da PRIO (antiga PetroRio), o cenário também é positivo. A Genial Investimentos estima o breakeven da companhia em cerca de US$ 40 por barril, com tendência de queda nos próximos anos. O lifting cost da PRIO variou entre US$ 7,5 e US$ 11,1 por barril ao longo de 2024, dependendo dos campos operados. Mesmo com um eventual preço do petróleo na casa dos US$ 50, a PRIO ainda conseguiria gerar um fluxo de caixa saudável, o que mostra força no modelo de negócios da empresa.
Já a Brava Energia, uma petroleira menor, apresentou um lifting cost de US$ 19,9 por barril em 2024 — mais alto do que o das concorrentes, mas ainda assim com melhorias significativas em relação ao ano anterior. O breakeven estimado da empresa ficou na casa dos US$ 42 por barril, o que indica que ela consegue operar com equilíbrio mesmo com uma eventual cotação do barril abaixo de US$ 50, embora com uma margem menor.
Ou seja, se o preço do petróleo Brent — hoje oscilando na faixa de US$ 61 — cair para valores entre US$ 45 e US$ 50, essas empresas ainda estariam, em geral, operando com rentabilidade. Mas se os aumentos de produção da OPEP+ fizerem o barril cair abaixo disso por um período prolongado, as companhias com margens menores, como a Brava, podem começar a sentir mais pressão.
Para o investidor, acompanhar essas movimentações da OPEP+ e os custos das petroleiras é essencial para entender os riscos e oportunidades de curto e médio prazo no setor de óleo e gás brasileiro.