- A alta dos aluguéis está ligada ao uso crescente de imóveis para aluguel de curta duração, especialmente via Airbnb, que reduz a oferta para moradia fixa e eleva os preços.
- Grandes cidades do mundo já implementaram restrições para conter a especulação imobiliária e proteger moradores permanentes, enquanto o Brasil ainda não regula adequadamente essa prática.
- A ausência de controle sobre o Airbnb aumenta a desigualdade social, expulsando famílias das áreas centrais e dificultando o acesso à moradia digna, um direito básico.
Nos últimos anos, alugar um imóvel ficou muito mais caro em grandes cidades brasileiras, mesmo com oferta suficiente de imóveis. Isso acontece porque o mercado imobiliário mudou suas estratégias de lucro, principalmente com a ascensão do Airbnb e a falta de regras claras. Entenda os cinco principais fatores que explicam esse cenário e suas consequências para a população.
Alta dos aluguéis: oferta não é o problema
Embora muitos pensem que a dificuldade para alugar se deve à falta de imóveis, dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) mostram o contrário: o estoque de imóveis disponíveis aumentou nas últimas décadas. No entanto, os preços do aluguel subiram mais que a inflação, com alta acumulada de mais de 40% em São Paulo desde 2020.
Isso ocorre porque o mercado imobiliário adotou novas formas de rentabilizar imóveis, como aluguéis de curto prazo e investimentos especulativos. Além disso, políticas públicas insuficientes para conter a especulação agravam o problema. Consequentemente, a moradia, direito fundamental, está cada vez mais inacessível para quem depende do aluguel.
Além do aumento dos preços, essa dinâmica dificulta o planejamento financeiro das famílias e pressiona os sistemas urbanos, especialmente nas regiões centrais, onde a oferta é mais valorizada.
Airbnb: o impacto da nova economia
O Airbnb revolucionou o mercado ao permitir que proprietários aluguem imóveis por períodos curtos, principalmente para turistas e viajantes a trabalho. Com isso, muitos investidores começaram a comprar vários apartamentos em regiões valorizadas para lucrar mais com aluguel por temporada do que com contratos tradicionais.
Como resultado, a quantidade de imóveis disponíveis para aluguel mensal diminui, pressionando os preços para cima. Em São Paulo, a prefeitura identificou cerca de 15 mil imóveis no Airbnb, a maioria concentrada em áreas centrais e perto do transporte público. Isso reduz as opções para quem busca moradia fixa e contribui para o aumento dos valores dos aluguéis.
Por fim, embora o Airbnb tenha facilitado o turismo e gerado renda para alguns proprietários, ele também criou um efeito colateral que afeta diretamente a população residente, especialmente as camadas mais vulneráveis.
Desigualdade e exclusão social
Essa concentração de imóveis para aluguel de curta duração leva à expulsão gradual das famílias de baixa e média renda dos centros urbanos. Como consequência, essas pessoas são obrigadas a buscar moradia em bairros distantes, com menor acesso a serviços públicos essenciais, como transporte, saúde e educação.
Essa segregação territorial aprofunda desigualdades sociais e limita a mobilidade das populações mais vulneráveis. Além disso, morar longe implica mais gastos e tempo de deslocamento, reduzindo a qualidade de vida e as oportunidades de trabalho e estudo.
Para agravar a situação, a falta de investimentos em infraestrutura nas regiões periféricas dificulta ainda mais a vida dessas famílias, aumentando o ciclo de exclusão e pobreza.
Restrições globais ao Airbnb
Frente a esses desafios, cidades como Nova York e Berlim criaram leis para limitar o Airbnb. Nova York, por exemplo, proibiu aluguéis de curta duração em prédios com várias unidades para proteger moradores permanentes. Já Berlim impôs multas pesadas para quem desrespeita as regras, buscando conter a especulação imobiliária.
Outras cidades europeias, como Barcelona e Paris, também adotaram medidas similares, equilibrando turismo e direito à moradia. Esses exemplos provam que a regulação é essencial para evitar que plataformas digitais prejudiquem o mercado habitacional.
Além disso, essas medidas incentivam o uso do mercado imobiliário de forma mais sustentável e justa, protegendo os moradores locais sem impedir o turismo.
Por que o Brasil não regula?
Apesar da crise habitacional clara, no Brasil não há políticas firmes para controlar o crescimento do Airbnb. A influência do mercado imobiliário e a falta de vontade política impedem que medidas eficazes sejam adotadas.
Sem regras, o Airbnb segue impulsionando a especulação, prejudicando quem depende do aluguel e agravando a desigualdade urbana. Por isso, é urgente implementar leis que protejam o direito à moradia e limitem o uso abusivo da plataforma.
Enquanto isso não acontece, milhões enfrentam dificuldades crescentes para encontrar um lar digno nas cidades brasileiras. A falta de controle continua abrindo espaço para que investidores priorizem o lucro em detrimento da população.