
- A safra de café 2025/2026 deve ter queda na produção total, especialmente do arábica, o que deve manter os preços elevados para o consumidor
- Condições climáticas adversas e estoques historicamente baixos dificultam uma queda nos preços e aumentam a volatilidade do mercado
- A nova tarifa dos EUA sobre importações pode favorecer o Brasil no comércio exterior, mas o impacto no consumo global ainda preocupa especialistas
No Dia Mundial do Café, celebrado nesta segunda-feira (14), os consumidores brasileiros não têm muito motivo para brindar. A bebida mais amada do país enfrenta uma combinação de fatores climáticos, produtivos e econômicos que devem manter os preços em alta pelo menos até 2026.
Segundo especialistas do setor, mesmo com o aumento da produção de café robusta, a queda significativa no volume do café arábica, mais valorizado no mercado, impedirá uma redução de preços no curto prazo.
A expectativa é que a safra 2025/2026 comece a ser colhida entre o fim de abril e maio, com uma queda de 13% na produção do arábica, de acordo com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
Apesar do crescimento estimado de 18% no volume do robusta, o total da produção nacional deve encolher. Para o consumidor, isso significa preços ainda elevados nas prateleiras.
Safra menor e estoques baixos reforçam preços altos
As estimativas das principais entidades agrícolas e financeiras reforçam o cenário preocupante. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projeta uma retração de 4,4% na safra total deste ano, com queda de 12,4% no arábica e alta de 17,2% no robusta.
A StoneX também prevê uma retração geral, de 2,1%. Mesmo com o crescimento do robusta, sua qualidade inferior não supre a queda do arábica no mercado.
Além disso, os estoques globais seguem em níveis historicamente baixos. A Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) destaca que o arábica, com menor oferta e maior demanda, deve continuar valorizado.
“A volatilidade nos preços é esperada. A combinação entre produção fraca e estoques reduzidos impulsiona as cotações futuras”, afirma Celírio Inácio, diretor-executivo da entidade.
A cotação da saca de café chegou a US$ 582 em 2023, o maior valor desde 1977. Atualmente, o preço ainda se mantém elevado, girando em torno de US$ 476 por saca, acima da média histórica. Mesmo com parte desse custo ainda não repassado integralmente ao consumidor final, a tendência é de pressão contínua nos preços ao longo de 2025.
Fatores climáticos e cenário global
Eventos climáticos extremos vêm afetando a produção global desde 2020. O Brasil, maior produtor mundial, sofreu com geadas, secas prolongadas e chuvas intensas — efeitos diretos dos fenômenos El Niño e La Niña.
O Vietnã, outro gigante da produção, também enfrentou dificuldades, contribuindo para a redução na oferta global.
Paralelamente, a demanda mundial por café segue em crescimento. Essa combinação desequilibrada entre oferta e procura intensifica os aumentos nos preços internacionais. No Brasil, os dados mais recentes do IBGE revelam que o café moído acumula alta de 77,78% nos últimos 12 meses. Em 2025, o avanço já chega a 30%.
Além dos desafios climáticos e produtivos, o cenário internacional traz novas incertezas. A decisão dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 10% sobre produtos importados, incluindo o café, pode afetar o mercado global.
Especialistas consideram, no entanto, que o Brasil pode se beneficiar, ganhando competitividade frente a outros exportadores mais taxados. No entanto, há o risco de queda no consumo americano, o que pode gerar instabilidade no setor.
Enquanto isso, consumidores brasileiros seguem enfrentando preços altos nas gôndolas dos supermercados. Mesmo com esforços da indústria para segurar os repasses, o impacto é inevitável diante da conjuntura internacional, climática e produtiva. O alívio, se vier, dependerá de uma safra excepcional e de condições climáticas estáveis nos próximos anos.