- Sabesp mira captação de até R$ 70 bilhões nos EUA com emissão de dívida após 20 anos fora do mercado internacional
- Objetivo é conquistar grau de investimento internacional, com destaque para blue bonds e vencimentos de curto a médio prazo
- Privatização impulsiona expansão e controle fiscal, com alavancagem estável e foco em infraestrutura e sustentabilidade
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) está prestes a dar um passo ousado no mercado financeiro global. Privatizada em 2024, a gigante do setor de água e esgoto prepara sua primeira emissão de títulos de dívida nos Estados Unidos em mais de duas décadas.
A iniciativa marca um novo capítulo para a empresa, agora sob comando privado. Que busca, portanto, conquistar o tão almejado grau de investimento junto às principais agências internacionais de rating.
O CFO da Sabesp, Daniel Szlak, revelou em entrevista concedida em Nova York que a empresa pretende captar até R$ 70 bilhões (equivalente a US$ 13,5 bilhões) nos próximos anos.
O dinheiro será usado para financiar os ambiciosos compromissos assumidos no plano de investimentos pós-privatização, com foco em expansão da infraestrutura e melhoria dos serviços.
“As agências de classificação não nos elevarão ao grau de investimento a menos que façamos isso”, afirmou Szlak, reforçando a importância da emissão para a credibilidade e sustentabilidade financeira da companhia.
Operação
Entre os instrumentos analisados está a emissão de blue bonds, títulos voltados a projetos sustentáveis ligados à água. A Sabesp quer estruturar essa operação já nos próximos 12 meses, aproveitando a crescente demanda global por ativos com selo ESG (ambiental, social e governança).
Além disso, a empresa mira emissões com vencimentos mais curtos, apostando que as taxas de juros americanas podem cair em breve, o que baratearia o custo da dívida.
A nova estratégia também prevê a construção de uma curva de rendimento sólida, que possa servir de referência para futuras captações.
“É preciso começar a construir a curva, provavelmente com notas de cinco, sete ou dez anos, e acessar o mercado talvez a cada dois anos”, explicou o CFO.
“Eventualmente, o que eu quero é chegar a um título com vencimento em 20 ou 30 anos.”
A privatização da Sabesp, concluída em setembro de 2024, foi uma das mais relevantes do Brasil nas últimas décadas. O governo paulista reduziu sua participação a uma posição minoritária, mas manteve poderes em decisões estratégicas.
A meta era clara: atrair capital privado para acelerar os investimentos em saneamento, especialmente na capital paulista, maior cidade da América Latina.
Sob a nova gestão, a Sabesp tem mantido controle sobre sua alavancagem financeira. A relação entre dívida líquida e Ebitda está em 1,8 vez, nível considerado saudável. Szlak, no entanto, destacou que trabalha em conjunto com os bancos para alongar prazos de pagamento e reduzir os custos financeiros da companhia.
“Tenho que cuidar dos detentores dos meus títulos de dívida da mesma forma que cuido do meu acionista”, afirmou, demonstrando o equilíbrio entre responsabilidade fiscal e retorno ao capital.
O movimento da Sabesp representa não apenas uma guinada estratégica, mas também um teste de confiança do mercado global em empresas brasileiras recém-privatizadas. Se bem-sucedida, a emissão pode servir de modelo para outras companhias estaduais que planejam trilhar o mesmo caminho.