
O fantasma da guerra comercial voltou a assombrar os mercados globais com força total nesta quarta-feira (16). O estopim foi uma dupla ofensiva do governo dos Estados Unidos contra a China no estratégico setor de tecnologia: a exigência de licenças especiais para exportar um dos chips de inteligência artificial mais populares da Nvidia (o H20) para o país asiático, e a ameaça de novas tarifas sobre semicondutores e produtos farmacêuticos.
A reação foi imediata e brutal, especialmente para as empresas de chips. A Nvidia, gigante do setor, viu suas ações despencarem cerca de 5% após confirmar na terça-feira que a restrição ao chip H20 deve lhe custar US$ 5,5 bilhões (aproximadamente R$ 33 bilhões) em receita perdida. Embora os EUA venham apertando as restrições contra a China há anos, o país asiático ainda é um mercado vital, respondendo por mais de 13% das vendas da Nvidia no último ano fiscal (cerca de US$ 17 bilhões).
Para piorar o cenário, o presidente americano Donald Trump adicionou semicondutores e produtos farmacêuticos a uma investigação de segurança nacional na segunda-feira (14). Essa medida é frequentemente o primeiro passo para a imposição de novas tarifas, o que deixou o setor de tecnologia em pânico.
O efeito cascata foi inevitável. A ASML, empresa holandesa essencial que fornece equipamentos para fabricar chips, viu suas ações caírem mais de 4% após divulgar encomendas trimestrais fracas e alertar que as tarifas americanas aumentam a incerteza para seus negócios em 2025 e 2026. Outras gigantes seguiram o tombo: a AMD, rival da Nvidia, perdeu 6%, enquanto Micron Technology, Broadcom e Intel caíram entre 2% e 4% nas negociações pré-mercado nos EUA.
Curiosamente, essa nova onda de pessimismo veio logo após um breve alívio no início da semana, quando os EUA suspenderam temporariamente outras tarifas e reduziram taxas sobre semicondutores chineses, o que havia impulsionado as ações de tecnologia.
Alguns analistas questionam a lógica por trás da nova restrição. Stacy Rasgon, da Bernstein, avalia que proibir o chip H20 da Nvidia “não faz sentido”, pois poderia simplesmente entregar o mercado de inteligência artificial chinês para rivais locais como a Huawei. Ele estima o impacto financeiro direto da proibição do H20 como “não enorme no grande esquema das coisas”, mas o temor maior reside na escalada das tensões e na possibilidade real de novas tarifas amplas.
O nervosismo varreu as bolsas globais. Na Ásia, o Nikkei (Japão) caiu 1,01%, o Kospi (Coreia do Sul) recuou 1,21% (com a fornecedora da Nvidia, SK Hynix, caindo 3,7%), o Hang Seng (Hong Kong) despencou 1,91% (interrompendo 6 dias de alta), e o Taiex (Taiwan) cedeu 1,96% (com a gigante TSMC perdendo 2,51%). A exceção foram as bolsas da China continental (Xangai e Shenzhen), que fecharam em leve alta, possivelmente ajudadas por compras de fundos estatais.
Na Europa, o cenário era igualmente negativo, com o índice STOXX 600 caindo 0,6% e perdas generalizadas em Frankfurt, Milão, Londres, Paris e Madri. Nos EUA, os futuros indicavam uma abertura em forte baixa, especialmente para o índice Nasdaq (onde estão as big techs), com queda projetada de 1,5%, enquanto S&P 500 e Dow Jones também apontavam para perdas.
Investidores agora aguardam ansiosamente o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, e qualquer novidade sobre as tarifas de Trump, em um ambiente de clara aversão ao risco e receio de que a guerra comercial entre as maiores economias do mundo esteja entrando em uma fase ainda mais aguda.