
A taxa básica de juros no Brasil segue em patamares elevados e sem perspectivas para uma redação a curto prazo. Com o cenário global pressionado por incertezas econômicas e tensões geopolíticas, muitos investidores optam por uma postura mais conservadora. Neste contexto, a renda fixa volta a protagonizar as carteiras, com ativos que oferecem retornos acima da média histórica.
Lucas Sharau, analista de mercado e sócio da iHUB Investimentos, avalia que essa movimentação tem lógica.
“Estamos em um momento em que acontece naturalmente um movimento dos investidores para travar seus investimentos nos atuais patamares elevados de juros para os próximos anos. Historicamente, o atual patamar é considerado alto, especialmente em um contexto de elevada incerteza no mercado global”, explica.
Quais ativos ganham destaque com a selic elevada?
Ao analisar os diferentes instrumentos de renda fixa, Sharau destaca que o retorno esperado está diretamente ligado ao risco de cada aplicação — e que esse equilíbrio precisa ser avaliado com cautela, especialmente em momentos de instabilidade.
“Temos um pequeno distanciamento dos retornos esperados entre os investimentos com mais risco para os com menos risco. O investidor precisa se perguntar se vale a pena correr esse risco para o patrimônio que ele irá alocar”, explica.
Entre as opções, o Tesouro Direto aparece como o ativo mais conservador, por carregar apenas o risco soberano. Já os CDBs, LCIs e LCAs oferecem uma camada de segurança extra com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), enquanto debêntures, CRIs e CRAs oferecem maior retorno potencial, mas exigem uma avaliação mais criteriosa do risco de crédito envolvido.
IPCA+6 surge como ótima oportunidade
Apesar da inflação não escalar nos últimos meses, a expectativa de pressão inflacionária futura mantém os títulos híbridos (IPCA + taxa fixa) entre os mais atrativos do momento.
“Os títulos que pagam de maneira híbrida estão com taxas de retorno acima de IPCA +6%, o que é considerado extremamente alto”, destaca Sharau.
E se a selic subir ainda mais?
Sobre o futuro, Sharau explica que o impacto de uma alta adicional da Selic já está, em boa parte, precificado pelo mercado.
“O Banco Central dar continuidade ao ciclo de alta não deve alterar significativamente a precificação atual. Porém, uma mudança drástica no sentido ou intensidade da política monetária pode gerar grandes variações nos preços dos ativos de renda fixa”, alerta.
Para o sócio da iHUB, o atual nível de juros já se aproxima do teto histórico de projeções, o que pode sinalizar cortes futuros em vez de novas altas — algo que favorece quem aproveitar agora para travar taxas mais elevadas.
“É mais provável que, no futuro, sejamos impactados por necessidades extraordinárias de cortes de juros do que por novas altas. Isso é um indicativo para que os investidores realizem alocações por prazos maiores”, conclui Sharau.