- Selic deve subir para 14,75% ao ano, maior nível desde 2006, segundo consenso do mercado
- Inflação resistente e incertezas globais, como a guerra comercial dos EUA, dificultam fim do ciclo de alta
- BC deve adotar comunicação cautelosa, sinalizando possível fim do aperto, mas sem compromissos rígidos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar nesta quarta-feira (7) um novo aumento da taxa Selic em 0,5 ponto percentual, elevando os juros para 14,75% ao ano, no entanto, patamar que o Brasil não via desde agosto de 2006.
A maioria esmagadora dos analistas ouvidos pela Bloomberg, 31 de 32 instituições, projeta essa elevação, enquanto apenas uma aposta em uma alta mais moderada, de 0,25 ponto.
A expectativa do mercado financeiro está ancorada em declarações recentes dos membros do Copom, que vêm reiterando termos como “cautela”, “incerteza” e “flexibilidade”. A sinalização sugere que, embora o ciclo de aperto monetário esteja próximo do fim, o comitê ainda não considera encerrada a batalha contra a inflação.
Inflação fora da meta, juros nas alturas
A decisão do Copom acontece em um ambiente desafiador. A inflação acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA-15, chegou a 5,49% até abril, puxada principalmente pelos preços dos alimentos e gastos com saúde.
Mesmo com a taxa de desemprego em 7% (a menor para um primeiro trimestre desde 2012) e com a renda média da população em alta, o consumo aquecido pressiona ainda mais os preços.
Economistas como Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, defendem a elevação da Selic nesta reunião, mas veem espaço para que o ciclo se encerre em junho, com uma alta residual de 0,25 ponto percentual, levando a taxa a 15% ao ano.
“A atividade segue acima do potencial, e a inflação está distante da meta. O Copom deve evitar compromissos rígidos neste cenário”, afirmou Schwartsman.
“Se amarrar de alguma maneira pode sempre acabar custando em termos de credibilidade”, afirma.
Guerra comercial dos EUA gera impacto indireto
O cenário externo também pesa nas decisões do BC. A guerra comercial entre os Estados Unidos e seus principais parceiros, acirrada pelo tarifaço promovido pelo presidente Donald Trump, traz um novo fator de incerteza para a política monetária global.
O efeito pode ser duplo: de um lado, há a possibilidade de desinflação com a queda dos preços das commodities; de outro, a volatilidade cambial pode pressionar o real e alimentar ainda mais a inflação.
Apesar da pressão de Trump, o Federal Reserve deve manter os juros americanos estáveis entre 4,25% e 4,50% ao ano nesta mesma “superquarta”. No Brasil, essa estabilidade externa pode abrir espaço para o início do ciclo de cortes ainda este ano, mas isso dependerá da combinação de uma política fiscal responsável, inflação em queda e sinais mais claros da economia global.
Sinais do Copom: firmeza com cautela
Para Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, o ciclo de alta ainda não terminou. Ela projeta uma nova elevação de 0,5 ponto nesta quarta-feira, seguida de um último ajuste de 0,25 ponto em junho.
“As expectativas de inflação continuam longe da meta e a inflação corrente segue salgada. O discurso do Copom ainda não aponta para um encerramento claro do ciclo”, disse.
Pinheiro acredita que o Banco Central adotará um “guidance light”, uma sinalização sutil de que um ajuste menor pode ocorrer na próxima reunião. Ela também aposta em um possível corte de juros em dezembro, com uma redução de 0,5 ponto percentual, mais agressiva que a maioria das previsões do mercado.
Marco Antonio Caruso, economista do Santander, vai na mesma direção e acredita que o momento de “parar para observar” está próximo. Para ele, um juro real de 9,5% já é bastante elevado para os padrões brasileiros. Caruso avalia que o Copom deve seguir o exemplo de agosto de 2022, quando sinalizou um possível ajuste residual sem se comprometer de forma definitiva.
No fim das contas, a decisão desta quarta-feira será mais do que uma simples elevação da Selic. Será, portanto, um sinal importante sobre como o Banco Central pretende equilibrar prudência e combate à inflação em um ambiente cada vez mais incerto.