- A cúpula do Mercosul começa com Brasil e Argentina com relações difíceis, refletidas na queda do comércio bilateral
- As exportações brasileiras para a Argentina caíram 24,8%, enquanto as importações aumentaram 9,7%, resultando em uma balança comercial mais equilibrada
- A embaixadora brasileira atribui a queda no comércio ao ajuste fiscal do governo de Javier Milei
- Apesar das divergências, o Mercosul concordou com os termos do acordo de livre comércio com a União Europeia
O Mercosul inicia nesta quinta-feira (5), sua 65ª cúpula com um cenário tenso entre Brasil e Argentina, as duas maiores economias do bloco. As relações comerciais e políticas entre os dois países atravessam uma fase difícil, refletindo-se em uma queda acentuada no comércio bilateral e divergências em várias questões econômicas e políticas.
Mesmo assim, os dois países chegaram a um consenso sobre o aguardado acordo de livre comércio com a União Europeia, que pode finalmente ser concluído.
Queda no comércio e tensões políticas
Dados recentes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços do Brasil (MDIC) revelam que o comércio entre Brasil e Argentina sofreu um grande retrocesso em 2024. Entre janeiro e outubro deste ano, as exportações brasileiras para a Argentina caíram 24,8%, enquanto as importações do Brasil aumentaram 9,7%.
Embora a balança comercial ainda seja positiva para o Brasil, o superávit caiu drasticamente. Dessa forma, de 4,75 bilhões de dólares para apenas 69 milhões de dólares no mesmo período.
A embaixadora Gisela Padovan, secretária para América Latina e Caribe do Itamaraty, atribui a queda a um ajuste fiscal implementado pelo novo governo argentino, liderado por Javier Milei.
Em entrevista, Padovan afirmou que a diminuição substancial das trocas comerciais não tem explicação, a não ser pelas mudanças econômicas introduzidas por Milei.
“Entrou um novo governo que promoveu um ajuste bastante forte e tem implicações negativas para nós”, declarou a embaixadora.
Mercosul em busca de equilíbrio
Embora o Brasil tenha registrado um superávit de cerca de 6 bilhões de dólares no Mercosul em 2023, a relação comercial entre os países membros do bloco se equilibraram este ano.
No caso específico da Argentina, a corrente comercial caiu em impressionantes 10,8 bilhões de dólares, conforme os dados do MDIC. Para a embaixadora, o equilíbrio na balança comercial é desejável, mas com um aumento nas trocas, e não com a redução do comércio que está ocorrendo.
A queda nas trocas não se deve a novas barreiras comerciais internas. Mas, sim, a uma série de dificuldades nas relações bilaterais. Não há um esforço ativo para resolver os impasses, o que agrava a situação.
A cúpula do Mercosul, que ocorre em Montevidéu, no Uruguai, discutirá esse cenário desafiador e será marcada pela primeira presença de Milei no encontro.
O presidente argentino, que no ano passado se ausentou da reunião do bloco em Assunção, havia preferido participar de um evento político de direita, a CPAC, em Camboriú (SC), ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Foi a primeira vez na história do Mercosul que um presidente dos países fundadores faltou à cúpula por iniciativa própria.
Acordo com a União Europeia traz otimismo
Apesar das tensões políticas e econômicas, um acordo importante promete dar uma nova perspectiva ao Mercosul. O bloco alcançou um consenso sobre os termos do tão aguardado acordo de livre comércio com a União Europeia. Contudo, o que pode ser um passo importante para a integração regional.
As negociações, que ocorreram ao longo de vários anos, estão em uma fase final, e o Mercosul espera que a União Europeia aceite os termos acordados.
De acordo com fontes do bloco, todos os membros fundadores, incluindo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, concordaram com as condições finais do acordo.
A conclusão desse pacto representa uma vitória significativa para a integração econômica do Mercosul. Com potenciais benefícios para os quatro países membros, especialmente nas áreas de comércio, investimentos e acesso ao mercado europeu.
O futuro do Mercosul
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo bloco, especialmente nas relações entre Brasil e Argentina, a cúpula de 2024 representa um momento de reflexão e renovação das expectativas para o Mercosul.
O acordo com a União Europeia oferece uma perspectiva positiva para a economia regional e pode servir como um ponto de partida para superar as divergências entre os países membros.
Para o Brasil e a Argentina, é um momento crucial de reconstrução das relações comerciais. E, ainda, a conclusão do acordo com a União Europeia pode ser um passo fundamental para recuperar a confiança. Fortalecendo os laços econômicos dentro do bloco.
O Mercosul, que enfrenta desafios internos, pode encontrar um novo caminho para sua relevância e unidade no cenário global.