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No mundo pós-pandemia, ninguém mais se surpreende quando alguém se revela como um trabalhador 100% remoto – algo impensável há três anos. Lembro-me de assistir uma live com presidentes de bancos, no início do isolamento social, em 2020, e um deles contou em detalhes o imenso desafio de colocar cerca de 100 mil colaboradores para trabalhar de casa. Segundo ele, isso nunca havia sido cogitado nem de longe.
Passada a crise sanitária, o cenário é outro. Principalmente porque, ao longo de dois anos, as empresas investiram maciçamente em tecnologias que facilitaram a comunicação no trabalho remoto. Um levantamento realizado pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP), chamado de Pesquisa Anual sobre o Mercado Brasileiro de TI e Uso nas Empresas, revelou que durante a pandemia houve um avanço notável no uso de dispositivos digitais, no Brasil. Computadores, notebooks, tablets e smartphones somados já superam a marca de 447 milhões de unidades – mais de dois por habitante.
A pesquisa também aborda a participação no mercado dos fabricantes de 26 categorias de software. A Microsoft dominou várias categorias no usuário final, algumas com mais de 90% do uso. Já os sistemas integrados de gestão (ERP) da TOTVS e da SAP têm 33% do mercado cada, Oracle 11% e outros 23%. Isso mostra o empenho das companhias em contar com ferramentas capazes de integrar o físico ao virtual, transformando-se digitalmente.
Por um lado isso foi bom, uma vez que as inovações durante a pandemia encurtaram distâncias e viabilizaram trabalhos que antes acreditava-se só serem possíveis presencialmente. Mas por outro, passada a pandemia, vemos que ainda temos muito o que aprender sobre gestão. Isso porque os desafios são muitos: lidar com a produtividade das equipes, manter o foco do time e garantir a qualidade das entregas estão entre elas.
Um levantamento realizado pela Runrun. it com objetivo de mapear esses desafios mostrou que apenas 36% dos gestores respondentes disseram atuar em empresas com uma política voltada para o trabalho remoto, ou seja, 64% não tinha um planejamento para este modelo. Apenas 56% dos gestores afirmaram que se sentiam preparados para o trabalho remoto, e 55% disseram que suas empresas estavam minimamente preparadas para a operação a distância.
Para 47% dos gestores entrevistados, o principal desafio tem sido monitorar a produtividade do time. Em seguida, manter o foco e o ânimo do time e, em terceiro, monitorar as tarefas que estão sendo realizadas pelos colaboradores. Quatro em cada dez entrevistados apontaram que identificar as dificuldades de cada pessoa do time a distância tem sido um desafio, e 37% disseram que identificar e resolver problemas de infraestrutura, como qualidade da internet e adequação mínima das estações de trabalho.
Tudo isso mostra o quanto tem sido difícil estar à frente das equipes em tempos de trabalho híbrido. Em tempos de transformação digital, depois de tantos investimentos, as cobranças se mantêm em alto nível, mas a falta de habilidade e também de capacitação estão tirando o sono dos gestores. Embora o trabalho remoto seja positivo para manter o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e consequentemente traga benefícios imensuráveis para o colaborador, o modelo precisa ser muito nem pensado para que haja um equilíbrio também nos resultados gerados.
Na minha opinião, para lidar com todos esses desafios, é necessário rever processos, atualizar práticas e adotar novas ferramentas de trabalho que ajudem a minimizar as dores tanto para os gestores quanto para o resto do time. Já investimos o suficiente em comunicação, agora, é hora de investir em conhecimentos que nos permitam guiar da melhor maneira esse barco.
O trabalho remoto é uma tendência que deve se consolidar, mas como tudo que se inicia, ainda estamos na fase dos aprendizados. Ainda vamos chegar lá.
Por Marco Poli, CIO (Chief Innovation Officer) da Closedgap.
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