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A economia brasileira entra em um ciclo de redução da taxa de juros depois de três anos. A última queda da Selic ocorreu em agosto de 2020, no contexto da pandemia da Covid-19, quando a taxa caiu de 2,25% para 2% ao ano. Em 2021, teve início um ciclo de alta que levou a taxa para 13,75% ao ano, permanecendo nesse patamar até a última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil, ocasião em que a taxa foi reduzida para 13,25%. E a tendência para os próximos meses é de um processo de redução sistemática da taxa de juros diante do cenário de queda da inflação e estabilidade dos preços.
Diante desse cenário, onde devo investir meu dinheiro e minhas reservas para alcançar meus objetivos no futuro? A resposta para essa questão não é fácil e depende muito dos objetivos e níveis de tolerância ao risco, mas a primeira recomendação é: muito cuidado com as milhares de sugestões que as redes sociais nos apresentam. É fato que a internet pode auxiliar com o esclarecimento de informações e aprendizado por parte dos investidores, mas também há conteúdos produzidos com interesses específicos, que podem levar os investidores a alterarem suas aplicações com resultados inesperados diante de eventual rentabilidade baixa ou até mesmo negativa. A seguir serão apresentadas algumas afirmações recorrentes nas mídias sociais com a análise de “mito”, “verdade” ou “depende” para que o investidor possa refletir a aprimorar suas próprias decisões.
Afirmação 1 – “Como a Selic está caindo, o investidor deve fugir da renda fixa” – Mito
Em cenários de queda da taxa de juros, não há dúvidas de que o retorno das aplicações financeiras diminui. Entretanto, o investidor deve olhar para o ganho real, que é o ganho acima da inflação, e não o ganho nominal. Como a inflação no Brasil reduziu significativamente nos últimos meses, uma Selic em patamares situados entre 10% e 13% com uma inflação anual entre 3% e 4% acarreta um retorno real, ou seja, acima da inflação, em torno de 8%, o que pode ser considerado uma ótima rentabilidade.
Afirmação 2 – “Em cenário de queda da taxa de juros, o investidor deve migrar suas aplicações para a bolsa” – Depende
Como regra geral, um cenário de queda na taxa de juros estimula a atividade econômica e aumenta a lucratividade das empresas, o que resulta na valorização das ações. Entretanto, o mercado financeiro tem como característica a antecipação de eventos futuros, o que explica, por exemplo, uma valorização do índice Ibovespa de mais de 11% somente nos últimos seis meses. Pode-se concluir que os preços das ações já incorporaram, ao menos em parte, o cenário de queda na taxa de juros. A entrada no mercado de ações, nesse momento, pode até resultar em prejuízo, a depender do período da aplicação e da conjuntura econômica. Embora a economia brasileira esteja, aparentemente, em um cenário positivo, há uma série de desafios internos, especialmente com a política fiscal e desafios oriundos no mercado internacional, como uma potencial recessão nos EUA (a principal economia do mundo).
Afirmação 3 – “O investidor deve diversificar seus investimentos” – Verdade
O princípio básico do mundo das finanças é: “nunca coloque seus ovos na mesma cesta, pois você perderá todos os seus ovos se a cesta cair”. Nesse sentido, a diversificação dos investimentos é importante. No caso do Brasil, que tem taxas de juros elevadas, investimentos em títulos do Tesouro Nacional indexados à Selic ou Certificados de Depósito Bancário – CDBs, que oferecem uma remuneração de 100% ou mais do CDI, constituem uma excelente opção de investimento em termos de retorno e segurança. Mesmo assim, é recomendável que o investidor diversifique sua carteira. Inicialmente, com uma pequena fração (5% ou 10%) em investimentos de maior risco, com potencial de retorno superior. Com o passar do tempo e o processo de aprendizado, o investidor consegue lidar da forma mais adequada com as oscilações bruscas em tais modalidades de aplicações.
Com a análise das três afirmações acima, espera-se que os investidores possam aprimorar suas decisões de investimento e obter retornos que propiciem o alcance dos desejos e sonhos para o futuro em um cenário de queda da taxa de juros que a economia brasileira terá pela frente.
Por Pedro Raffy Vartanian, economista, é Professor Doutor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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