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Desde o início deste ano, alertamos em nossos relatórios de macro sobre os riscos que as eleições gerais no Brasil podem representar para o Real e outros ativos brasileiros. Dado o histórico de alta inflação e déficits públicos, as transições de poder no Brasil tendem a aumentar a incerteza da política fiscal — incerteza que tende a penalizar a moeda brasileira.
Esse não foi o caso durante a maior parte de 2022 e o Real ainda teve um desempenho positivo no ano, mas as primeiras escolhas econômicas do novo governo que tomará posse em 1º de janeiro estão levando o Real a um desempenho inferior aos seus pares emergentes. Neste relatório, atualizaremos nossas perspectivas para a economia e a moeda brasileira, dado os desenvolvimentos recentes.
Risco fiscal sob os holofotes de novo
Nos primeiros pregões após a eleição de Lula, o BRL esteve bastante estável e isso se baseou em 2 importantes fatos das eleições deste ano. Em primeiro lugar, em 2023 o Congresso brasileiro terá maior predominância de deputados e senadores de centro e direita, o que dificulta — em tese — a adoção de medidas econômicas não favoráveis ao mercado.
Além disso, a vantagem sobre Bolsonaro — candidato à reeleição pelo Partido Liberal (PL) — foi apenas marginal e muito menor do que o apontado anteriormente pelas pesquisas no primeiro turno da eleição. Com isso, a interpretação era de que Lula adotaria um discurso econômico mais moderado e faria mais alianças com partidos de centro durante seu 3º mandato, reduzindo o risco fiscal do Brasil.
No entanto, as primeiras escolhas econômicas do presidente eleito foram recebidas com ceticismo pelos mercados locais. Antes de sua posse, ele negociou com o Congresso para alterar o orçamento de 2023 para permitir um aumento nos gastos sociais.
Até agora, as escolhas de sua equipe econômica forneceram poucos insights sobre seus planos fiscais e levantaram temores de um retorno ao intervencionismo estatal que foi a marca dos últimos anos de seus mandatos anteriores (2003-10). O Brasil precisa de uma reformulação nas regras fiscais e de uma reforma tributária para garantir o crescimento de longo prazo e a solvência fiscal, de modo que uma política fiscal expansionista pode levar a uma desvalorização adicional do Real.
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Monetário pode suportar o Real novamente
Após uma redução do diferencial de rendimento até 2022 — dado o aperto monetário do Fed — que retirou parte do suporte ao Real, a política monetária pode voltar a ajudar a moeda brasileira. Se as preocupações com a política fiscal continuarem aumentando, o Banco Central do Brasil (Bacen) provavelmente precisará adiar seus planos de cortar as taxas em 2023.
Em um cenário mais positivo para as contas públicas, o monetário ainda pode ser favorável ao Real. Além de ter adotado políticas fiscais para controlar o aumento dos preços de energia e combustíveis, o Brasil iniciou seu ciclo de aperto monetário cerca de 1 ano antes dos EUA. Como resultado, a inflação brasileira agora parece muito mais controlada e ancorada.
Com isso, o diferencial de rendimento real (grosso modo, a taxa de juros menos a inflação) pode permanecer relativamente alto mesmo que o Bacen comece a cortar as taxas e o diferencial nominal caia.
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Novo rali de commodities e reabertura da China podem compensar desaceleração
Na balança comercial, a economia brasileira também pode começar a ter boas surpresas como a de novembro, que foi o maior superávit para o mês em 10 anos. Esse otimismo em relação ao comércio exterior brasileiro se deve principalmente à reabertura da China, que deve aumentar as importações do principal parceiro comercial do Brasil.
Além disso, os preços das commodities — extremamente relevantes para os termos de troca brasileiros — seguem em trajetória de queda desde a segunda quinzena de junho, mas ainda vemos um cenário positivo para os preços das commodities em 2023, dado que a oferta das energéticas e algumas agrícolas seguem apertadas — mesmo considerando a demanda menor devido à desaceleração econômica global.
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