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Após um período de efervescência em 2020 e 2021, com mais de 50 empresas abrindo capital, o mercado brasileiro de IPOs (Ofertas Públicas Iniciais) enfrenta agora um período desafiador. Pela primeira vez nesta década, o Brasil vivenciou dois anos consecutivos sem novos IPOs, uma realidade atribuída à escalada dos juros, que saltaram de 2% para 13,75%.
Marcelo Noronha, CEO do Bradesco (BBDC4), manifesta otimismo quanto ao futuro, prevendo um cenário mais favorável para novas aberturas de capital na B3. Segundo ele, a queda dos juros nos Estados Unidos e um crescimento econômico mais robusto no Brasil podem revitalizar o mercado de capitais.
No cenário global, o primeiro trimestre de 2023 também foi marcado por uma redução nas atividades de IPO. De acordo com a Ernst & Young, houve uma queda de 8% em relação ao mesmo período do ano anterior, com apenas 299 IPOs realizados, movimentando US$ 21,5 bilhões. Essa retração reflete o impacto da alta dos juros e da inflação mundial, que não apenas drenaram a liquidez do mercado, mas também motivaram uma mudança nos setores de interesse, com companhias de áreas mais consolidadas e seguras, como energia, ganhando destaque.
Flavio Machado, especialista da EY, ressalta que ativos ligados à energia são atraentes devido aos seus fluxos de caixa previsíveis e conexão com temas de sustentabilidade, cada vez mais relevantes para investidores.
No Brasil, a alta da taxa Selic exerceu uma forte influência, desestimulando as empresas a se lançarem no mercado de capitais. Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, enfatiza que a rentabilidade da renda fixa em períodos de alta da Selic torna as ofertas de ações menos atraentes.
Rafael Passos, analista da gestora Ajax Asset, acrescenta que fatores como riscos externos, crescimento econômico fraco e incertezas políticas contribuíram para essa “tempestade perfeita” no mercado de IPOs. Spiess acredita que um retorno às atividades de IPO depende da recuperação da bolsa, da queda dos juros e do fim do ciclo de resgates em fundos de investimento.
Um aspecto preocupante é o desempenho das empresas que abriram capital em 2020 e 2021. Einar Rivero, do TradeMap, aponta que, das 73 companhias listadas nesse período, 56 apresentaram desempenho negativo. Este cenário desencorajador, junto com a redução no volume de negociações na B3, impactou fortemente as empresas de menor capitalização e as novidades do mercado.
Essa situação cria um panorama complexo para o mercado de IPOs no Brasil. Enquanto o otimismo de líderes do setor financeiro sugere uma possível retomada, os dados históricos e as condições econômicas atuais indicam que ainda há desafios significativos a serem superados. A esperança é que, com melhorias no ambiente econômico e uma maior estabilidade política, o mercado de capitais brasileiro possa reacender o interesse por novas aberturas de capital, revitalizando assim o cenário de IPOs no país.
O que é um IPO
“IPO” é a sigla para “Initial Public Offering”, que em português significa “Oferta Pública Inicial”. Trata-se do processo pelo qual uma empresa privada oferece suas ações ao público pela primeira vez em uma bolsa de valores. O objetivo principal de um IPO é levantar capital para a empresa, permitindo que ela expanda suas operações, invista em novos projetos ou pague dívidas.
Durante um IPO, a empresa trabalha com bancos de investimento para determinar o preço inicial de suas ações, com base em diversos fatores como a saúde financeira da empresa, suas perspectivas de mercado, e o interesse do público investidor. Uma vez que as ações são oferecidas ao público e começam a ser negociadas na bolsa, a empresa passa a ser considerada uma companhia de capital aberto.
Os IPOs são momentos significativos no mercado financeiro, pois representam uma oportunidade para os investidores participarem do crescimento de uma empresa. Ao mesmo tempo, um IPO pode ser um evento de alto risco para investidores, dado que o desempenho futuro das ações pode ser incerto. Para a empresa, o IPO também representa um marco importante, pois além de levantar capital, ela passa a ter mais visibilidade e credibilidade no mercado, mas também se sujeita a uma maior regulamentação e escrutínio público.
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