- Com a autorização da China, a Argentina espera fechar grandes vendas de trigo, interrompendo um período sem exportações significativas desde os anos 1990
- A Argentina deve colher 3,9 milhões de toneladas de trigo, 18% a mais que no ano anterior, graças às boas condições climáticas
- A possível guerra comercial, com tarifas de Trump, pode beneficiar a Argentina, como ocorreu com o Brasil na primeira disputa comercial
- O governo de Milei enfrenta dificuldades para reduzir as altas tarifas de exportação de grãos, o que afeta a competitividade da Argentina no mercado global
Com a autorização da China para começar a comprar trigo da Argentina em 2024, os comerciantes argentinos estão otimistas sobre fechar suas primeiras vendas significativas para o gigante asiático desde a década de 1990.
Gustavo Idigoras, presidente da CIARA-CEC, uma das maiores associações de exportação agrícola da Argentina, afirmou que a abertura do mercado chinês é uma grande oportunidade para o país, que é um dos maiores produtores e exportadores de trigo do mundo.
A China já havia autorizado as exportações de milho argentino, embora nenhum carregamento tenha sido enviado até o momento.
A movimentação é vista como uma resposta às crescentes demandas globais e ao contexto comercial internacional, que, por sua vez, tem gerado um impulso nas exportações agrícolas argentinas.
As autoridades e comerciantes do setor acreditam que o trigo será a próxima grande commodity a encontrar uma boa demanda no país asiático.
Expectativa de grande colheita
A expectativa de uma colheita abundante na Argentina este ano aumenta ainda mais o otimismo. A região sul da província de Buenos Aires, que abriga as principais áreas produtoras de trigo do país, está se preparando para uma colheita recorde de 3,9 milhões de toneladas métricas, um aumento de 18% em relação ao ano passado, quando a seca afetou negativamente os rendimentos.
Esse crescimento está diretamente ligado à recuperação das condições climáticas favoráveis após o fenômeno La Niña, que nos últimos meses tem contribuído para a melhoria do rendimento das lavouras.
Gabriel Abregos, analista da Bolsa de Grãos de Bahía Blanca, destacou que a presença de chuvas bem distribuídas ao longo do ciclo da plantação ajudou as lavouras a se manterem em boas condições.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estima que a produção nacional de trigo da Argentina alcance 17,5 milhões de toneladas na atual safra, comparado com 15,9 milhões na temporada anterior.
Impactos potenciais da Guerra Comercial
Enquanto isso, o mercado global de grãos está passando por uma transformação devido à política do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que promete novas tarifas sobre as importações.
Esse cenário levanta a possibilidade de uma guerra comercial que pode beneficiar os produtores de trigo da América do Sul, como ocorreu na primeira guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.
Idigoras, da CIARA-CEC, aponta que o Brasil já aproveitou a primeira guerra comercial com os Estados Unidos para se tornar uma potência agrícola, e a Argentina pode seguir o mesmo caminho se houver uma intensificação das tarifas de Trump.
O presidente eleito, Javier Milei, tem se mostrado interessado em aumentar a competitividade das exportações argentinas, mas ainda precisa cumprir suas promessas de reduzir as tarifas sobre os grãos, que atualmente variam entre 12% e 33%.
Desafios internos
O governo de Milei ainda enfrenta desafios internos, especialmente relacionados à política fiscal e ao aumento das tarifas de exportação.
Embora os exportadores pressionem o governo para que haja uma redução das taxas, o presidente precisa garantir a receita necessária para cumprir suas metas orçamentárias ambiciosas.
A questão é se as pressões externas para aumentar as exportações poderão se alinhar com a necessidade do governo de manter a receita.
Se o governo reduzir as tarifas sobre a exportação de grãos, a Argentina se tornará mais competitiva no mercado internacional e poderá aproveitar ao máximo as oportunidades comerciais com a China, a maior economia do mundo.
A expectativa de que o trigo argentino entre no mercado chinês representa um passo importante para consolidar ainda mais o papel da Argentina como uma potência agrícola global.
No entanto, o sucesso dessa movimentação dependerá de uma combinação de fatores, como o andamento das reformas internas, as relações comerciais internacionais e o comportamento do mercado mundial.