
- Bolsonaro questionou diretamente o ex-AGU sobre possibilidade jurídica de anular eleições
- Reunião com Forças Armadas e ministro da Defesa confirmou tentativa de encontrar saída institucional
- Depoimento fortalece inquérito que apura trama golpista e aumenta pressão sobre ex-presidente
O ex-advogado-geral da União Bruno Bianco confirmou nesta quinta-feira (29), em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF), que o ex-presidente Jair Bolsonaro buscou, logo após a derrota nas eleições de 2022, uma saída jurídica para tentar reverter o resultado do pleito.
Bianco declarou ter participado de uma reunião convocada por Bolsonaro logo após o segundo turno. Na qual, o então chefe do Executivo perguntou diretamente se havia “algum problema” que permitisse contestar o resultado das urnas.
Bianco prestou o depoimento como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, réu na ação penal que investiga uma suposta tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder.
Segundo o ex-AGU, o encontro foi motivado pela insatisfação de Bolsonaro com o resultado do pleito e contou com a presença de importantes nomes das Forças Armadas, além do então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
Possibilidade jurídica
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, perguntou a Bianco se Bolsonaro o havia sondado sobre alguma “possibilidade jurídica” para contestar o pleito. O ex-AGU respondeu de forma direta:
“Houve uma reunião.”
Bianco explicou que o ex-presidente o procurou após uma coletiva de imprensa sobre a transição de governo e perguntou:
“O senhor vislumbra algum problema que possa ser questionado?”
A resposta do então chefe da AGU foi firme.
“Respondi que, na minha ótica, a eleição havia ocorrido de maneira correta, sem nenhum tipo de problema jurídico”, afirmou.
Bianco acrescentou ainda que Bolsonaro “se deu por satisfeito” com a resposta.
Revelações
A revelação de Bianco confirma o que já havia sido citado pelo ex-comandante da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior, em depoimento à Polícia Federal. Segundo Baptista Júnior, a reunião aconteceu em 1º de novembro de 2022 e teve a participação dos três comandantes das Forças Armadas à época: o general Freire Gomes (Exército), o brigadeiro Baptista Júnior (Aeronáutica) e o almirante Almir Garnier (Marinha).
Bianco também citou a presença do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, mas não se recordou se Anderson Torres participou do encontro.
As declarações de Bianco ampliam a dimensão das investigações sobre a suposta tentativa de ruptura institucional após as eleições de 2022. A confirmação de que Bolsonaro buscou respaldo jurídico para questionar o resultado eleitoral reforça a tese da Procuradoria-Geral da República (PGR) de que o ex-presidente atuou para minar a democracia mesmo após perder nas urnas.
O depoimento público de Bianco marcou o processo, ao confirmar diretamente a consulta jurídica feita por Bolsonaro, até então revelada apenas por terceiros.
Agora, com a confirmação da reunião por um ex-integrante do primeiro escalão do governo, a narrativa ganha consistência jurídica e política no inquérito do STF.
A defesa de Anderson Torres espera usar o depoimento para indicar que o então ministro da Justiça não teve participação direta na articulação golpista. Já a oposição ao bolsonarismo no Congresso pressiona pela aceleração das investigações e pela responsabilização criminal do ex-presidente, que poderá enfrentar novos desdobramentos judiciais a partir deste depoimento.