
- Correios acumulam R$ 1,72 bilhão em perdas e operam com déficit crescente no caixa.
- Agências sem insumos, voos suspensos e transportadoras paralisadas prejudicam a entrega de encomendas.
- Empresa atrasa repasses ao fundo de pensão e busca soluções emergenciais para evitar colapso total.
O rombo nos Correios em 2025 ultrapassou qualquer previsão pessimista: além de amargar prejuízos bilionários, a empresa atrasou salários e enfrenta escassez de materiais básicos nas agências. Assim, a crise, que se agravou com a queda nas encomendas e medidas do próprio governo, acendeu o alerta máximo sobre a viabilidade da estatal.
Rombo bilionário e colapso nas contas
A situação financeira dos Correios se deteriorou drasticamente em 2025. Apenas no primeiro trimestre, a empresa acumulou um prejuízo de R$ 1,72 bilhão, mais que o dobro do mesmo período do ano passado. Janeiro foi o mês mais crítico, com déficit de R$ 424 milhões, o maior da história para o período.
Com a arrecadação em queda livre, a receita mensal desabou para R$ 1,4 bilhão, enquanto as despesas alcançaram R$ 1,9 bilhão, o que resultou num desequilíbrio fiscal grave. Além disso, o plano de negócios da estatal está estagnado e não há sinais claros de reversão do cenário no curto prazo.
Outro fator que agravou o rombo foi a chamada “taxação das blusinhas”, aprovada em 2023. A nova regra, que tributa compras internacionais de até US$ 50, reduziu drasticamente o número de encomendas – uma das principais fontes de receita da estatal. Estima-se que a perda só com esse segmento tenha superado R$ 2,2 bilhões em doze meses.
Salários atrasados e agências em colapso
A crise deixou de ser um problema contábil e passou a impactar diretamente a rotina dos funcionários. Em fevereiro, parte dos trabalhadores não recebeu o salário referente a janeiro, ferindo um acordo trabalhista que vigorava desde 1969. O sindicato da categoria em São Paulo denunciou o caso e cobrou explicações da diretoria.
O episódio marcou o primeiro atraso salarial formalizado da história recente dos Correios e gerou indignação nas redes e nas assembleias da categoria. Muitos servidores relatam dificuldades para honrar compromissos pessoais diante da incerteza sobre o próximo pagamento.
Além disso, os efeitos da crise são visíveis nas próprias agências. Falta papelão, fita adesiva e até envelopes para atendimento básico. Com isso, serviços são suspensos ou improvisados, o que afeta diretamente os consumidores e gera ainda mais reclamações.
Medidas emergenciais e cortes drásticos
Tentando conter o colapso, a direção dos Correios anunciou medidas de emergência. Entre elas, estão o congelamento de contratações de terceirizados por 120 dias, a renegociação de contratos com fornecedores e o fechamento de agências instaladas em imóveis alugados.
As ações, no entanto, têm efeito limitado. Internamente, já se fala na necessidade de um plano de reestruturação mais profundo. A estatal também tenta diversificar sua atuação, apostando em novos negócios como marketplace próprio, soluções logísticas, e meios de pagamento digitais.
A modernização é vista como o único caminho viável para evitar a dependência de repasses públicos ou medidas extremas, como a privatização parcial. A avaliação da equipe econômica do governo, porém, é de que a estatal precisará apresentar resultados antes de qualquer socorro institucional.
Correios podem falir?
Apesar do cenário dramático, tecnicamente os Correios não podem “falir”, já que são uma empresa pública. No entanto, a estatal corre o risco de entrar em colapso funcional, com impactos graves na prestação de serviços, especialmente em regiões mais remotas do país.
Segundo fontes internas, a equipe de gestão prepara um plano de recuperação com metas de corte de custos, aumento de eficiência e abertura para parcerias privadas. A prioridade, dizem, é manter os salários em dia e evitar um colapso operacional antes da virada do semestre.
Mesmo com os esforços, o desgaste na imagem da estatal é evidente. A desconfiança entre funcionários e consumidores cresce, e a percepção é de que a crise foi subestimada durante tempo demais. Agora, a urgência é evitar que o caos vire rotina.