- Corte salarial pode chegar a 29,4% com a redução da jornada de trabalho de 44 para 34 horas semanais.
- Outras medidas incluem suspensão de férias, revisão do plano de saúde, fim do home office e prorrogação do PDV.
- Empresa tenta economizar até R$ 1,5 bilhão em resposta a prejuízo de R$ 2,6 bilhões registrado em 2024.
Funcionários dos Correios podem enfrentar cortes salariais de até 29,4% como parte de um plano de recuperação financeira da estatal. A proposta foi apresentada na última semana e prevê, entre outras ações, a redução da jornada de trabalho, ajustes no plano de saúde e suspensão temporária de benefícios. A medida tem gerado apreensão entre os servidores, que já enfrentam um cenário de instabilidade e incertezas.
Com um prejuízo de R$ 2,6 bilhões em 2024, a empresa pública busca alternativas para conter os gastos e reequilibrar as contas. Segundo os Correios, o pacote é emergencial, mas fundamental para evitar um colapso financeiro e garantir a continuidade dos serviços postais em todo o país.
Proposta afeta jornada e remuneração
O principal ponto do plano é a redução da jornada semanal de 44 para 34 horas. Essa medida, embora opcional, implicaria em cortes proporcionais nos salários dos servidores que aderirem. A economia esperada com a mudança gira em torno de R$ 78,3 milhões por mês, o que pode alcançar até R$ 940 milhões em um ano.
Ao mesmo tempo, a empresa suspenderá a concessão de férias entre junho de 2025 e janeiro de 2026. A justificativa apresentada é a necessidade de manter o pleno funcionamento das operações durante o período de recuperação. Com menos folgas autorizadas, a estatal espera maior produtividade e menor custo de reposição.
Ainda nesse pacote, os Correios também anunciaram a suspensão do regime de teletrabalho. A partir de 23 de junho, todos os funcionários deverão retornar ao trabalho presencial, salvo aqueles amparados por decisões judiciais. A direção da empresa alega que o trabalho presencial é mais eficaz em termos operacionais.
Benefícios na mira da contenção de despesas
Outra frente de corte envolve o plano de saúde dos empregados. A estatal pretende mudar a rede credenciada, diminuindo os custos do convênio em até 30%. Essa alteração, no entanto, depende de negociação com os sindicatos, que já demonstraram preocupação com o possível impacto à qualidade do atendimento.
Para reduzir o volume de despesas com pessoal, os Correios também prorrogaram o Programa de Demissão Voluntária (PDV) até 18 de maio. A expectativa da direção é de que a adesão cresça com as novas medidas, uma vez que parte dos funcionários pode optar pela saída diante das perdas anunciadas.
Paralelamente, a empresa pretende remanejar carteiros e atendentes para os centros de tratamento e logística. O objetivo é alocar os servidores em áreas que enfrentam maior sobrecarga, ao mesmo tempo em que se diminui o número de contratações e deslocamentos.
Crise estrutural e queda nas receitas
A crise financeira da estatal não é recente, mas se agravou em 2024. A principal causa apontada para o rombo nas contas foi a redução nas encomendas internacionais. A nova tributação sobre compras do exterior, apelidada de “taxa das blusinhas”, encareceu os produtos e afastou consumidores.
Além disso, apenas 15% das mais de 10 mil agências da empresa apresentaram saldo positivo em 2024. O dado reforça a necessidade de reformular o modelo de negócios e tornar os serviços mais competitivos, segundo especialistas ouvidos pela imprensa.
Mesmo enfrentando o aumento dos custos operacionais e a queda na demanda, a empresa manteve estruturas pesadas e pouco adaptadas às novas formas de consumo, como o e-commerce privado, que cresceu durante e após a pandemia.
Caminho incerto e cobrança por diálogo
Embora a direção dos Correios defenda que as medidas são indispensáveis para manter a estatal viva, sindicatos e funcionários apontam falta de diálogo e alertam para os riscos sociais da proposta. A perda de renda, a retirada de benefícios e o aumento da carga presencial podem desestimular a força de trabalho e gerar efeitos contrários aos pretendidos.
O Ministério das Comunicações acompanha o processo, mas ainda não se pronunciou oficialmente sobre possíveis intervenções. Caso a adesão às medidas seja baixa, novas rodadas de negociação poderão ocorrer nos próximos meses.
A empresa aposta na cooperação dos trabalhadores para enfrentar a crise. No entanto, os próximos dias devem ser marcados por debates acalorados e possíveis manifestações contrárias à proposta.