Política externa

Esquerda francesa contesta homenagem a Lula: “Próximo demais de ditaduras”

Jornal Libération diz que postura do presidente brasileiro em relação à Rússia e ao Sul Global contradiz valores democráticos

Crédito: Depositphotos
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  • Crítica inédita: Libération, principal jornal da esquerda francesa, contestou publicamente homenagem dada a Lula.
  • Política externa ambígua: Proximidade com Putin e postura neutra na guerra da Ucrânia geram desconfiança até entre aliados históricos.
  • Simbolismo político: Editorial questiona se Lula é a melhor figura brasileira para receber uma honraria em nome da democracia.

A entrega de um título de doutor honoris causa ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela Universidade Paris-VIII provocou forte reação na França. O jornal Libération, principal veículo da esquerda intelectual francesa, criticou a decisão e apontou a proximidade do líder brasileiro com regimes autoritários como motivo de preocupação.

Proximidade com Putin incomoda aliados

Em editorial publicado na terça-feira (3), o Libération afirmou que Lula não deveria receber a homenagem. O título, entregue nesta sexta-feira (6), tornou-se alvo de controvérsia, principalmente entre setores progressistas. Para o jornal, a postura do presidente em relação à guerra na Ucrânia demonstra alinhamento preocupante com líderes autoritários.

A publicação destaca a presença de Lula na Praça Vermelha, em Moscou, no desfile militar de 9 de maio. O evento reuniu figuras como Vladimir Putin e Xi Jinping, e buscou associar a invasão da Ucrânia à luta contra o nazismo. Segundo o Libération, essa participação simboliza uma escolha diplomática que não pode ser ignorada.

Além disso, o editorial condena a tentativa de Lula de relativizar o conflito. O presidente costuma igualar “agressor e agredido” em seus discursos, o que, segundo o jornal, enfraquece os valores democráticos que a homenagem deveria representar.

Crítica interna da esquerda europeia

O ataque ao título não partiu da direita, mas sim de um jornal fundado por Jean-Paul Sartre, ícone do pensamento progressista francês. O Libération tem sido, historicamente, uma voz ativa nas lutas por direitos civis e democracia. Por isso, a crítica carrega peso simbólico.

Embora reconheça a trajetória de Lula como líder operário e presidente popular, o jornal alerta que o contexto atual exige outro tipo de cautela. Para os editores, a Universidade Paris-VIII deveria ter buscado outro nome para homenagear, preferencialmente alguém que represente de forma mais clara os ideais republicanos franceses.

A publicação questiona se a aproximação com o Brasil justificaria um gesto tão controverso. Apesar dos elogios ao passado de Lula, o Libération considera que ele não é, hoje, o melhor símbolo da democracia global.

Política externa brasileira gera desconfiança

A crescente insatisfação com a diplomacia brasileira também alimenta o debate. A tentativa de Lula de adotar uma postura de neutralidade entre os blocos globais, por vezes, resulta em aproximações problemáticas. Além da Rússia e da China, o presidente mantém diálogo com governos como os da Venezuela e de Cuba, frequentemente criticados por violações de direitos humanos.

O Libération reconhece o papel estratégico do Brasil no Sul Global, mas insiste que isso não pode justificar alianças ambíguas. Para o jornal, é preciso que líderes democráticos ajam de forma coerente, principalmente diante de guerras e autoritarismos.

Ao final do texto, os editores fazem um apelo por responsabilidade simbólica. Em tempos de polarização e conflito, uma homenagem pública como essa transmite uma mensagem política clara. Por isso, segundo o jornal, deveria haver mais cuidado nas escolhas.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.