
- Presidente francês pede que Brasil, China e Índia pressionem Putin por trégua.
- Presidente defende paz com respeito à soberania e ao multilateralismo.
- Encontro reforça diálogo sobre clima, comércio e segurança internacional.
Em visita de Estado à França, Lula reforça papel do Brasil em soluções multilaterais. Durante reunião com Emmanuel Macron, o presidente brasileiro ouviu apelos por mais pressão internacional contra a Rússia e discutiu clima, comércio e democracia global
Macron busca aliança mais firme
Durante coletiva com Lula nesta quinta-feira (5), o presidente francês Emmanuel Macron adotou tom direto ao falar sobre a guerra na Ucrânia. Segundo ele, é essencial deixar claro que “há um agressor, a Rússia, e um agredido, a Ucrânia”. A fala foi uma crítica implícita a iniciativas diplomáticas que tentam tratar os dois lados com simetria, ignorando a origem do conflito.
Nesse sentido, Macron lembrou que uma proposta de cessar-fogo feita pelos Estados Unidos foi aceita pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em março, em Jeddah, mas rejeitada por Vladimir Putin. Logo, para o francês, essa negativa é mais uma evidência de que o Kremlin não está comprometido com a paz. “Ele iniciou a guerra e não quer um cessar-fogo”, afirmou.
Por isso, Macron defendeu uma atuação coordenada da comunidade internacional. Segundo ele, “americanos, brasileiros, chineses e indianos” devem pressionar Moscou para encerrar o conflito. Sendo assim, na visão do líder francês, sem essa coalizão diplomática ampliada, Putin continuará ignorando os apelos por diálogo e violando normas internacionais.
O francês destacou ainda que a Rússia, embora membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, descumpre a própria Carta das Nações Unidas ao violar a soberania de outro Estado. Desse modo, a crítica reforça a necessidade de fortalecer o multilateralismo e reformar os mecanismos de governança global.
Brasil na diplomacia e no clima
A visita de Lula à França marca um retorno importante do Brasil ao cenário internacional. Esta é a primeira visita de Estado de um presidente brasileiro ao país europeu em mais de 12 anos. Lula foi recebido com cerimônia oficial na Esplanada dos Inválidos, em Paris, e teve encontro com Macron no Palácio do Eliseu.
Acompanhado da primeira-dama Janja da Silva e de ministros como Marina Silva (Meio Ambiente) e Ricardo Lewandowski (Justiça), Lula iniciou uma agenda voltada para temas geopolíticos e ambientais. Entre os assuntos debatidos estão os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza, além do papel do Brasil na defesa do comércio multilateral.
O presidente brasileiro também ouviu de Macron críticas às tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre aço e alumínio. Ambos os líderes concordaram que medidas protecionistas desequilibram o comércio global e prejudicam países em desenvolvimento. Com isso, buscaram alinhar posições contra práticas unilaterais e por regras mais justas.
Apesar das convergências, o acordo entre Mercosul e União Europeia segue como um ponto de atrito. Macron, pressionado por agricultores franceses, continua resistente ao tratado. Lula tenta avançar nas negociações, defendendo que o pacto pode incluir cláusulas ambientais mais robustas sem comprometer a competitividade do agronegócio.
Pressão por negociações reais
Durante sua fala, Macron voltou a criticar a postura russa nas negociações de paz. Para ele, enquanto Putin recusar o cessar-fogo, qualquer tentativa de mediação será inócua. Por isso, defende que potências globais, inclusive o Brasil, devem assumir posição mais incisiva para desbloquear o impasse.
O francês ressaltou sua recente conversa com o presidente chinês Xi Jinping, na qual buscou apoio para convencer Moscou a negociar. A ideia é ampliar a frente diplomática com países do Sul Global, que ainda mantêm relações mais próximas com o governo russo. Macron vê nesses países uma ponte possível entre os blocos em confronto.
Nesse contexto, o Brasil ganha importância estratégica. Lula tem defendido a paz, mas evita tomar partido, o que pode torná-lo um interlocutor respeitado por ambos os lados. A posição brasileira, no entanto, foi cobrada por Macron para ser mais assertiva, dentro de uma coalizão pela estabilidade internacional.
Além disso, Macron insistiu que qualquer negociação precisa respeitar a soberania da Ucrânia. “Um país violou a Carta da ONU e recusa a paz”, declarou. Para ele, o mundo não pode aceitar que um membro do Conselho de Segurança atue contra os princípios fundadores da própria organização.
Diplomacia e simbolismo
A agenda da visita de Lula não se limita à geopolítica. O presidente brasileiro também participou de momentos simbólicos e culturais. Ele foi homenageado pela Academia Francesa, uma das instituições mais prestigiadas do país, responsável por zelar pela língua francesa. Apenas Dom Pedro II havia recebido tal honraria antes dele.
O gesto é visto como uma sinalização de confiança da França no papel do Brasil como ator diplomático relevante. A cerimônia reforça laços culturais entre os dois países, fortalecendo o intercâmbio acadêmico e artístico no futuro.
A visita será encerrada com um jantar de gala no Palácio do Eliseu, com a presença de autoridades dos dois países. O evento coroa uma reaproximação estratégica entre Brasil e França após anos de distanciamento político e ambiental.
Ao fim, mesmo com divergências comerciais, Lula e Macron reafirmaram o compromisso com o multilateralismo, a democracia e a luta contra as mudanças climáticas. E, acima de tudo, com a necessidade urgente de uma paz negociada na Ucrânia.