
- Quadrilha usava idosos venezuelanos com documentos falsos para receber o BPC ilegalmente.
- Operações da PF revelaram prejuízos bilionários e afastamento de servidores do INSS.
- Especialistas pedem uso de tecnologia e reformas estruturais para evitar novas fraudes.
Uma nova fase das investigações da Polícia Federal revelou que uma quadrilha especializada em fraudes contra o INSS trouxe idosos da Venezuela para o Brasil a fim de envolvê-los em um esquema milionário. O grupo utilizava documentos falsos e simulava vínculos com o Regime Geral de Previdência Social, desviando valores públicos destinados a benefícios assistenciais. A operação escancarou mais um elo de um esquema complexo e internacional que já desviou milhões de reais dos cofres públicos brasileiros.
Esquema internacional de fraudes mobiliza autoridades
A Polícia Federal identificou que criminosos vinham atuando em Roraima com apoio de atravessadores locais. Esses intermediários levavam idosos venezuelanos ao Brasil e, com a ajuda de documentos fraudulentos, registravam pedidos de aposentadorias e benefícios assistenciais em nome dos estrangeiros. Assim que os pedidos eram aprovados, os criminosos tomavam o controle das contas bancárias vinculadas aos benefícios.
Além disso, a PF constatou que parte dos recursos desviados era rapidamente transferida para outras contas, dificultando o rastreio. Os idosos, frequentemente em situação de vulnerabilidade, recebiam apenas pequenas quantias ou eram abandonados após a conclusão dos procedimentos fraudulentos.
Diante do crescimento das denúncias, os agentes reforçaram as ações em áreas de fronteira, pois perceberam que os criminosos agiam de forma repetitiva em cidades com pouca fiscalização.
Enquanto as investigações se aprofundavam, surgiram provas do envolvimento de servidores públicos e de representantes de sindicatos e entidades intermediárias. Esses agentes, muitas vezes, facilitavam a tramitação de processos e ignoravam indícios de fraude nos documentos apresentados.
Ampliação da operação e conexões com outras fraudes
A operação, batizada de “Fake Idosos”, é uma das ramificações da ofensiva “Sem Desconto”, que apura fraudes bilionárias envolvendo descontos não autorizados em aposentadorias e pensões. Embora a nova descoberta tenha revelado outra face do mesmo esquema, ela também destacou a crescente sofisticação e organização das redes criminosas que atuam contra o INSS.
Nesse contexto, autoridades confirmaram que a quadrilha operava com atuação interligada a outros grupos já investigados por fraudes documentais. Ou seja, parte dos envolvidos já havia aparecido em investigações anteriores, mas adaptava suas estratégias para explorar brechas ainda existentes no sistema previdenciário.
Ademais, a nova modalidade de fraude chamou atenção da Controladoria-Geral da União (CGU), que decidiu ampliar auditorias em processos aprovados nos últimos três anos na região Norte. A ação busca identificar outros casos semelhantes que possam ter passado despercebidos até então.
Fragilidade do sistema e omissão estatal
O caso reforça a percepção de que o sistema de concessão de benefícios ainda apresenta vulnerabilidades graves. Apesar de avanços tecnológicos em alguns setores do INSS, mecanismos de validação documental e cruzamento de dados continuam frágeis. Isso facilita a entrada de pedidos fraudulentos, sobretudo em regiões de fronteira.
Dessa forma, a repetição de golpes semelhantes evidencia como os sistemas internos de controle ainda operam com falhas que se mantêm apesar dos alertas recorrentes dos órgãos de controle.
Embora o governo federal tenha prometido reforçar os mecanismos de fiscalização, especialistas apontam que a demora nas respostas administrativas contribui para a perpetuação das fraudes. Além disso, faltam ações coordenadas com os estados e municípios para evitar o uso indevido de serviços públicos por redes criminosas estruturadas.
Também se nota uma ausência de políticas públicas efetivas para lidar com o acolhimento de imigrantes em situação vulnerável. Em vez de receberem apoio institucional, muitos venezuelanos se tornam alvo fácil de organizações criminosas. Assim, o problema mistura fronteiras frágeis, migração forçada e falhas administrativas em um mesmo contexto.