Manipulação sistêmica

Instituição ligada ao MST adulterava documentos de aposentados

Depoimentos revelam que a entidade transformava formulários de exclusão em adesão para aplicar descontos indevidos.

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Instituição ligada ao MST adulterava documentos de aposentados
  • Depoimento de empresário revela que formulários de exclusão eram adulterados e transformados em adesão à revelia dos beneficiários
  • Investigação aponta crescimento exponencial dos valores retidos e aponta manipulação sistêmica de dados
  • Polícia Federal age tardiamente, mas escândalo abala a cúpula da Previdência e pressiona por reformas no controle de consignações

Novo acesso à documentos e depoimentos revelam o funcionamento de um esquema de fraudes milionárias envolvendo a Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais do Brasil).

Entre 2019 e 2024, a entidade se tornou a que mais aumentou os descontos aplicados em benefícios do INSS. Assim, passando de R$ 400 mil em 2019 para R$ 202 milhões em 2023, segundo dados da Controladoria-Geral da União (CGU).

O esquema veio à tona após um depoimento-chave prestado em 10 de junho de 2021 na Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor do DF. Bruno Deitos, empresário de Brasília, disse que a Premier Recursos Humanos fez a “atualização de cadastro dos associados da Conafer” como terceirizada.

Ele relatou, ainda, que sua missão era enviar promotores a residências de associados nos estados de Goiás, Distrito Federal, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para coletar assinaturas em formulários de exclusão de mensalidades.

Documento Conafer - Imagem: Reprodução Jornal Nacional (Globo)

No entanto, segundo Bruno, o verdadeiro objetivo não era obter cancelamentos, mas fraudar os formulários. De acordo com seu relato, Randel, proprietário da Target Pesquisas de Mercado (empresa que o contratou) afirmou em reunião que contrataria um serviço especializado para adulterar os PDFs. E, assim, transformá-los em formulários de adesão, permitindo a inclusão de descontos indevidos diretamente nos contracheques dos aposentados.

Enriquecimento ilícito

Bruno relatou que não recebeu o pagamento integral pelos serviços prestados e que, ao cobrar, sofreu ameaças do irmão do presidente da Conafer, Tiago Ferreira Lopes.

Tiago aparece em uma foto ao lado de Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da confederação. E, já havia sido condenado anteriormente por improbidade administrativa, enriquecimento ilícito e dano ao erário.

No dia seguinte, em novo depoimento à polícia, Bruno fez revelações ainda mais graves: afirmou que Carlos Lopes alegou ter influência dentro do INSS. Inclusive, mencionando o pagamento de vantagens a diretores da autarquia para alterar dados no sistema e fornecer informações sigilosas sobre aposentados e pensionistas.

Bruno entregou à polícia um acervo digital com 28,7 mil fichas de assinaturas colhidas pela Premier. Os documentos embasaram o inquérito que, à época, foi encaminhado pela Polícia Civil à Polícia Federal. Apesar da gravidade das acusações, a operação para desarticular o esquema só ocorreu em abril de 2025. Dessa forma, culminando na queda do então ministro da Previdência e do presidente do INSS.

Fraude em escala

A CGU confirmou os dados estarrecedores: os descontos da Conafer saltaram exponencialmente em apenas quatro anos, indicando a possível existência de uma fraude em escala industrial. Enquanto em 2019 os descontos somaram apenas R$ 400 mil, esse número chegou a R$ 57 milhões em 2020 e ultrapassou R$ 200 milhões em 2023.

Procurada, a Conafer informou que está colaborando com as investigações e se comprometeu a esclarecer os fatos no âmbito do inquérito federal. Contudo, os indícios colhidos até aqui já colocam a entidade no centro de um dos maiores escândalos envolvendo recursos do INSS na última década.

A apuração levanta sérias preocupações sobre o monitoramento de entidades conveniadas ao sistema previdenciário. Além de seus mecanismos de controle sobre descontos consignados.

Para especialistas, o caso expõe a fragilidade institucional do sistema, abrindo brechas para a exploração sistemática de aposentados e pensionistas. Este, o elo mais vulnerável da cadeia.

Rocha Schwartz
Paola Rocha Schwartz

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.

Estudante de Jornalismo, movida pelo interesse em produzir conteúdos relevantes e dar voz a diferentes perspectivas. Possuo experiência nas áreas educacional e administrativa, o que contribuiu para desenvolver uma comunicação clara, empática e eficiente.