Infância digital

Roblox vira febre entre jovens brasileiros e expõe desafios financeiros ocultos no jogo

Plataforma de jogos cresce no país, mas especialistas e dados internacionais apontam riscos éticos e problemas de monetização entre o público jovem.

Crédito: Depositphotos
Crédito: Depositphotos
  • Roblox cresceu no Brasil, atingindo 10 milhões de usuários ativos.
  • Plataforma incentiva jovens a produzir conteúdo, mas retém até 75% dos ganhos.
  • Falta de regulamentação específica no Brasil expõe crianças a riscos de exploração digital.

O crescimento do Roblox no Brasil e no mundo evidencia novas práticas de monetização voltadas a crianças e adolescentes. A plataforma, descrita pelo The Guardian como um “império de videogames construído com base no trabalho infantil”, enfrenta críticas pela forma como incentiva seus usuários mais jovens a produzir e vender conteúdo virtual.

Desse modo, o cenário brasileiro segue essa tendência, mas é importante se atentar aos riscos financeiros e éticos que esse modelo pode gerar, especialmente entre os mais vulneráveis.

Roblox e seu modelo de monetização

O Roblox alcançou mais de 71 milhões de usuários ativos diários em 2025, sendo que 58% deles têm até 16 anos. Esse dado reforça a dependência da plataforma em um público extremamente jovem, o que desperta preocupações no mercado global. No Brasil, o crescimento é notável: o país já figura entre os cinco maiores mercados de Roblox, com mais de 10 milhões de jogadores ativos.

Apesar do sucesso, o modelo de negócios do Roblox gera controvérsia. A plataforma permite que usuários criem jogos próprios e comercializem itens dentro do ecossistema, utilizando a moeda virtual Robux. Essa dinâmica, embora impulsione a criatividade, também insere crianças em um ambiente de produção de conteúdo que, em última análise, gera lucro para a empresa. Segundo relatório financeiro de 2024, o Roblox Corporation lucrou US$ 2,5 bilhões, com boa parte proveniente de microtransações realizadas por menores de idade.

Ademais, o The Guardian já caracterizou o Roblox como um “império de videogame construído com base no trabalho infantil”, evidenciando como o estímulo à criação de conteúdos por crianças se converte em receita para a plataforma. Portanto, cresce o debate sobre a linha tênue entre diversão e exploração.

Em recente entrevista à BBC, o CEO da popular plataforma de jogos, Dave Baszucki, causou polêmica ao fazer a seguinte afirmação: “Se você não se sente confortável, não deixe seus filhos jogarem Roblox.”

Brasil adota tendências globais, mas enfrenta riscos locais

Enquanto o fenômeno avança nos Estados Unidos e na Europa, o Brasil acompanha a tendência, mas com agravantes. De acordo com pesquisa da Kantar IBOPE de março de 2025, 61% das crianças brasileiras entre 7 e 14 anos jogam Roblox regularmente. No entanto, o país possui legislação mais permissiva sobre marketing digital infantil em comparação com nações como Reino Unido ou Alemanha, o que aumenta os riscos de abuso comercial.

Por isso, cresce a preocupação entre pais, educadores e autoridades. Muitos jovens brasileiros já tentam criar “experiências” dentro da plataforma com o objetivo de ganhar Robux e, futuramente, dinheiro real. Contudo, o Roblox retém até 75% dos ganhos gerados, criando um ambiente onde o esforço dos criadores raramente é recompensado de maneira justa.

Além disso, a falta de uma regulamentação específica sobre trabalho infantil digital no Brasil deixa brechas abertas para práticas que, embora comuns no ambiente virtual, seriam proibidas em atividades econômicas tradicionais. Assim, a expansão da plataforma traz benefícios, mas exige medidas urgentes de proteção ao público jovem.

Contextualizando o cenário: experiências internacionais e lições para o Brasil

Em outros países, debates e ações judiciais já moldam a atuação da plataforma. Nos Estados Unidos, organizações como o Center for Digital Democracy pressionam o Roblox Corporation a revisar suas políticas de monetização, principalmente diante de denúncias sobre a dificuldade de crianças em receber pagamentos pelos jogos que criam.

No Reino Unido, após investigações parlamentares sobre exploração digital, o Roblox precisou reforçar regras internas para proteger usuários menores de idade. Por outro lado, ainda não há um consenso internacional sobre como regular plataformas de criação de conteúdo infantil, o que prolonga a vulnerabilidade dos jovens usuários.

Portanto, o Brasil, onde o Roblox cresce aceleradamente, enfrenta um dilema: permitir a continuidade do modelo atual ou desenvolver políticas específicas para equilibrar inovação e responsabilidade social. Conforme o país debate regulamentações para influenciadores mirins e publicidade infantil, o ambiente do Roblox se torna uma nova fronteira que precisa ser urgentemente analisada.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.