
- Tributação limitada: Alíquota de 5% sobre LCI e LCA é considerada insuficiente para reaquecer a bolsa.
- Investimento estrangeiro em alta: Atração por ativos brasileiros cresce, mas confiança local depende de reforma fiscal.
- Perda de protagonismo: Brasil caiu de 17,5% para 4% de participação entre emergentes e precisa reverter tendência.
A proposta do governo federal de tributar em 5% as aplicações em Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), hoje isentas para pessoas físicas, não será suficiente para incentivar o retorno do investidor brasileiro à bolsa de valores. A avaliação é de Gilson Finkelsztain, presidente da B3, que demonstrou ceticismo quanto à efetividade da medida durante evento promovido pelo Itaú Unibanco e a corretora americana Avenue.
O executivo classificou a iniciativa como limitada e ressaltou que o sistema tributário brasileiro ainda impõe barreiras significativas para o avanço da renda variável. Segundo ele, o ambiente fiscal atual é confuso e não favorece nem os investimentos em renda fixa, tampouco o mercado acionário.
Isenções cumpriram papel, mas reforma é inevitável
Durante sua fala, Finkelsztain reconheceu que os incentivos fiscais tiveram papel importante nos últimos anos, facilitando captações por meio do mercado de capitais, como foi o caso das debêntures incentivadas. No entanto, destacou que a complexidade tributária brasileira exige uma abordagem mais ampla e clara.
“O problema não está apenas em acabar com isenções pontuais, mas em oferecer segurança e coerência para que o investidor possa confiar no ambiente fiscal”, comentou. Para ele, enquanto o país não realizar uma reforma profunda do chamado “manicômio tributário”, medidas pontuais como essa não surtirão efeito relevante no comportamento do investidor.
Além disso, o presidente da B3 alertou que, sem um incentivo mais claro ou uma sinalização de estabilidade fiscal, os recursos dos investidores locais continuarão concentrados em produtos conservadores e isentos, mesmo com um leve aumento de tributação.
Investidor estrangeiro puxa fluxo, mas cenário interno limita ganhos
Mesmo diante do pessimismo com a tributação de LCI e LCA, Finkelsztain observou sinais positivos vindos do exterior. De acordo com ele, há uma reaproximação de investidores globais com o Brasil, impulsionada por um ambiente de realocação global de capital e pela percepção de que os ativos brasileiros estão subvalorizados.
“O estrangeiro sempre entra primeiro. O Brasil ainda está barato, tem boas empresas. Quando houver uma redução crível dos juros ou um esforço fiscal consistente, o investidor local também volta”, afirmou. Ainda assim, reforçou que o Ibovespa depende de uma melhora fiscal sustentada para registrar avanços duradouros.
No acumulado de 2025 até maio, a B3 recebeu cerca de R$ 25 bilhões em aportes externos, com entradas concentradas em janeiro e maio. Mesmo assim, o executivo se mantém cauteloso e afirmou que o comportamento da bolsa continuará oscilando muito no curto prazo.
País perdeu protagonismo entre emergentes
Na avaliação de Finkelsztain, o Brasil desperdiçou parte de seu protagonismo nos mercados emergentes. Enquanto já representou 17,5% do índice MSCI de emergentes há 15 anos, hoje detém apenas 4%. Países como China, Arábia Saudita e Índia ganharam relevância no cenário global, deixando o Brasil para trás.
Esse declínio, segundo ele, é resultado de falhas domésticas, sobretudo na gestão fiscal. Apesar disso, há uma janela de oportunidade. O executivo destacou que os EUA concentram atualmente 70% da riqueza em mercado de capitais, embora respondam por apenas 27% do PIB mundial. Diante desse desequilíbrio, cresce a tendência de diversificação dos investimentos para Europa, Ásia e mercados emergentes — entre eles, o Brasil.
“Está contratada a saída de recursos dos EUA para outros destinos. O Brasil tem potencial, mas precisa fazer o dever de casa. É uma vergonha termos caído tanto entre os emergentes”, finalizou.