Economia

Desaceleração à vista: BofA projeta alívio na Selic apenas no fim de 2025

Banco norte-americano afirma que uma combinação de fatores deve frear a atividade econômica nos próximos meses

Brasil em queda de investimentos
Crédito: Depositphotos

A economia brasileira caminha para um segundo semestre de 2025 marcado por desaceleração, e o custo do crédito desponta como um dos principais vilões do momento. A avaliação é do Bank of America (BofA), que destaca o impacto das condições financeiras mais apertadas no país — um ambiente que já pressiona empresas e limita o crescimento.

Em relatório divulgado na última segunda-feira (2), o banco norte-americano afirma que a combinação de juros altos, pressão fiscal e dólar valorizado tende a frear a atividade econômica nos próximos meses.

“Esperamos que a atividade desacelere no segundo semestre de 2025, já que as condições financeiras estão apertadas há um longo período e o estímulo fiscal é menor do que vimos no final de 2023 e início de 2024”, afirmam os analistas.

Selic pode cair só em dezembro

Diante desse cenário, o BofA projeta que o Banco Central (BC) deve manter a Selic em 14,75% ao ano por mais tempo — com cortes só a partir de dezembro.

A decisão, segundo o banco, se apoia em um conjunto de sete variáveis que compõem o indicador de condições financeiras desenvolvido pelo próprio BC, entre elas taxa de câmbio, commodities, risco-país e desempenho das bolsas.

“Mesmo com sinais de alívio no início de 2025, o dólar ainda está longe dos níveis anteriores e os juros reais seguem acima de 7%, bem acima do patamar neutro estimado pelo Banco Central”, diz o relatório.

O patamar de juro neutro — aquele que não estimula nem contrai a economia — gira em torno de 5%.

IOF maior pressiona empresas

Outro fator citado pelo banco foi o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), anunciado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como forma de reforçar o caixa federal.

A medida, no entanto, tem efeito direto sobre os empréstimos bancários e elevou a alíquota para empresas de 1,88% para 3,95%.

Para o setor produtivo, isso representa um custo adicional relevante em um ambiente já hostil ao crédito.

“A alta do IOF reforça o argumento para que o Banco Central mantenha a Selic inalterada na próxima reunião, em junho”, afirma o BofA. O aumento foi criticado por empresários e está sendo alvo de resistência no Congresso, que pressiona por medidas alternativas para o ajuste fiscal.

Inflação e dólar em alta, petróleo em queda

A piora nas expectativas de inflação também pesou no ambiente econômico. Entre maio de 2024 e o início de 2025, os juros futuros saltaram de 10,5% para 14,5% ao ano, em meio ao avanço das projeções inflacionárias.

O dólar, por sua vez, saiu de R$ 5,15 para R$ 5,70, pressionado pelo temor fiscal e pela instabilidade internacional — sobretudo em relação à política comercial dos Estados Unidos, com novas tarifas propostas pelo presidente Donald Trump.

Apesar disso, alguns elementos ajudaram a conter parte dos danos. A queda de 22% nos preços do petróleo Brent e WTI trouxe alívio para setores dependentes de energia e transporte, além do bom desempenho das bolsas emergentes, incluindo o Ibovespa.

O Bank of America conclui que, embora existam pontos positivos pontuais, o quadro geral segue de aperto. O setor produtivo convive com crédito mais caro, incertezas fiscais e instabilidade cambial. “As condições financeiras apertadas ainda vão pesar por algum tempo, e o alívio monetário só deve vir no fim do ano”, resumem os analistas.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.