- 6 ações superam a Selic de 14,75% com dividend yields entre 15% e 29%, segundo estudo da Economatica
- Marfrig lidera com retorno de quase R$ 15 mil/ano para um investimento de R$ 50 mil
- Especialistas alertam que altos dividendos podem não ser sustentáveis e exigem análise criteriosa
Em um cenário de juros em disparada, com a taxa Selic alcançando os 14,75% ao ano (maior nível desde 2006), encontrar investimentos que superem esse retorno virou tarefa cada vez mais difícil.
Ainda assim, seis ações da B3 conseguiram a façanha de pagar dividendos superiores ao CDI, o principal indexador de renda fixa, que agora está em torno de 14,65%.
Segundo levantamento da Economatica, entre as quase 90 ações que compõem o Ibovespa, apenas essas seis companhias oferecem dividend yields reais acima da taxa básica de juros, tornando-se alternativas atrativas para investidores focados em renda passiva.
Marfrig (MRFG3) lidera com folga o ranking, entregando um dividend yield de 29,80% nos últimos 12 meses. No entanto, o que representa um retorno de quase R$ 15 mil em dividendos para quem aplicou R$ 50 mil no papel.
A gigante do setor alimentício é seguida de perto por outra potência da proteína animal, a JBS (JBSS3), com yield de 20,95%, equivalente a R$ 10.473 em proventos.
Também figuram na lista a Cemig (CMIG4), com 17,86%; as ações preferenciais e ordinárias da Petrobras (PETR4 e PETR3), com 17,75% e 16,85%, respectivamente; e a CSN Mineração (CMIN3), que completa o ranking com 15,19%.
Apesar do atrativo dos dividendos, analistas alertam: nem tudo que brilha é ouro.
Quanto rende R$ 50 mil investidos nessas ações?
Com base nos dividend yields dos últimos 12 meses, o retorno de um investimento de R$ 50 mil seria o seguinte:
- Marfrig (MRFG3): R$ 14.898,69
- JBS (JBSS3): R$ 10.473,40
- Cemig (CMIG4): R$ 8.929,31
- Petrobras (PETR4): R$ 8.876,02
- Petrobras (PETR3): R$ 8.426,52
- CSN Mineração (CMIN3): R$ 7.594,61
Esses números consideram apenas o pagamento de proventos, sem contar a valorização (ou desvalorização) das ações em si. Vale lembrar que, por exemplo, as ações da Petrobras caíram mais de 15% neste ano. Contudo, o que pode anular ou reduzir o ganho final.
Nem todo dividend yield alto é garantia
Para o analista Ricardo Salim, da Lumi Research, o investidor deve ir além do número “gordo” do dividend yield (DY).
“Um DY elevado pode ser resultado de eventos pontuais, como vendas de ativos ou decisões judiciais, e não necessariamente refletir um modelo sustentável de geração de caixa”, explica.
Segundo ele, é fundamental analisar outros indicadores antes de apostar em ações de dividendos, como:
- Nível de endividamento (dívida líquida/EBITDA);
- Geração de caixa operacional;
- Histórico de distribuição de lucros;
- Payout ratio (proporção do lucro distribuído);
- Margens e posição no setor de atuação.
Setores como energia, commodities e alimentos costumam apresentar boas oportunidades para dividendos. Mas, também enfrentam volatilidade cambial, ciclos globais de preços e risco político.
Em tempos de Selic elevada, a tentação de buscar ações que superam o CDI é real, mas o investidor consciente deve ponderar o risco do retorno fácil. Dividendos fartos, portanto, só fazem sentido quando vêm acompanhados de uma estrutura sólida e previsível.