Inflação e reajustes

Alta no churrasco: preço da picanha e de cortes populares dispara em 12 meses

Apesar do recuo geral da inflação, o corte de carne símbolo do governo petista lidera aumento de preços, refletindo desequilíbrios entre produção, demanda e custo

Crédito: Depositphotos
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  • A picanha teve alta de 15% em 12 meses, superando a inflação geral.
  • O corte se tornou símbolo político, mas segue distante da mesa popular.
  • Especialistas veem estabilização no futuro, mas dependente da oferta e renda.

Enquanto a inflação desacelera no país, o preço da picanha segue na contramão e pressiona o bolso do consumidor. Ícone das promessas do presidente Lula, o corte nobre de carne bovina ficou consideravelmente mais caro no último ano. O aumento não apenas desafia o discurso de acesso alimentar, como também escancara os entraves estruturais da cadeia produtiva e os efeitos da demanda aquecida, tanto no Brasil quanto no exterior.

A alta silenciosa da carne mais simbólica do governo

Mesmo com a desaceleração da inflação geral no país, a picanha — corte de carne mais mencionado pelo presidente Lula — acumula alta de 15% nos últimos 12 meses. Segundo o IBGE, o valor da peça disparou, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 3,69% no mesmo período. A discrepância chama atenção, sobretudo pelo peso simbólico que a carne ganhou nas promessas políticas.

Ainda durante a campanha eleitoral, Lula mencionou por diversas vezes a intenção de colocar picanha na mesa do trabalhador. No entanto, o que se vê é o contrário: o alimento ficou mais caro e segue fora do orçamento de grande parte da população. O cenário preocupa economistas, especialmente porque a carne bovina continua sendo um dos principais itens da cesta alimentar das famílias brasileiras.

Embora alguns alimentos tenham registrado queda de preços em abril, como o tomate e o feijão, os cortes bovinos mantêm tendência oposta. A picanha se destaca entre os cortes com maior aumento, refletindo não apenas fatores de mercado, mas também um descompasso estrutural entre oferta e demanda.

Essa valorização tem causas diversas. A primeira é o custo elevado da produção pecuária, pressionado por insumos e logística. Além disso, o consumo interno voltou a crescer com a melhora gradual da renda e a manutenção de programas sociais. Por fim, a exportação da carne de qualidade para mercados como China e Estados Unidos reduz a oferta no mercado interno, elevando os preços para o consumidor local.

Custo político e econômico da promessa da picanha

O aumento da picanha representa mais do que um problema econômico. Trata-se também de um desafio político para o governo, que adotou o corte como símbolo de retomada do poder de compra. Em um momento em que a inflação oficial apresenta sinais de controle, o encarecimento desse produto expõe fragilidades da recuperação econômica entre as camadas mais pobres da população.

De acordo com analistas, o movimento dos preços da carne bovina é resultado direto da retomada lenta da oferta. Houve abate menor de gado em anos anteriores, o que impacta a reposição atual. Mesmo com incentivos ao setor agropecuário, o ciclo de produção exige tempo, e o impacto na oferta interna ainda não se mostra suficiente para reverter o quadro.

Além disso, a picanha tornou-se artigo de luxo em algumas regiões metropolitanas, onde o quilo já ultrapassa R$ 70. Isso representa um custo mensal inatingível para famílias com renda de até dois salários mínimos. A situação reforça a sensação de frustração para quem esperava rever no prato o símbolo de campanha presidencial.

Enquanto isso, o governo tenta minimizar os efeitos desse tipo de pressão. Apostando em programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, a equipe econômica espera que o ganho nominal permita alguma recomposição do consumo alimentar. Contudo, o impacto no curto prazo é limitado, segundo os especialistas ouvidos.

Expectativas e caminhos possíveis para o preço da carne

O futuro da picanha no prato dos brasileiros depende, em grande parte, da oferta interna de carne e da evolução da renda das famílias. Segundo o economista André Braz, da FGV, a tendência é de estabilização dos preços no segundo semestre, desde que as exportações não aumentem mais. Caso contrário, o mercado interno continuará pressionado.

Por outro lado, há uma perspectiva mais positiva no médio prazo. Se os frigoríficos aumentarem o abate e o volume de carne disponível crescer, o preço poderá recuar. Isso depende também da recuperação de pastagens e do clima, que influencia diretamente os custos da pecuária. O governo, nesse contexto, pode atuar para garantir previsibilidade e incentivar a produção nacional.

Além disso, especialistas defendem que o Executivo reforce a vigilância sobre os mecanismos de formação de preços. A transparência nas cadeias de abastecimento é fundamental para evitar distorções. Com mais previsibilidade, o consumidor pode se planejar melhor, e o impacto inflacionário da carne se dilui.

A picanha, portanto, permanece como termômetro político e econômico do Brasil atual. Seu preço reflete tensões entre promessas eleitorais, desafios estruturais da produção agropecuária e limitações do controle inflacionário em itens específicos, mesmo com a melhora do índice geral.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.