- Os mercados globais enfrentam forte queda após o anúncio de Trump sobre novas tarifas contra México, Canadá e China, aumentando a incerteza econômica
- O economista Otaviano Canuto alerta que o Brasil pode ser impactado pelas novas tarifas dos EUA, principalmente em setores como aço e alumínio
- O aumento das tarifas pode impulsionar a inflação global e forçar o Federal Reserve a manter juros elevados por mais tempo, impactando a economia mundial
Os mercados globais enfrentam forte volatilidade nesta segunda-feira (3), após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar um novo pacote de tarifas contra o México, o Canadá e a China.
A decisão, que segue a estratégia protecionista do governo americano, tem gerado preocupação sobre o futuro do comércio internacional. Ainda, com especialistas apontando que o Brasil pode ser o próximo alvo das sanções.
Otaviano Canuto, economista e ex-diretor executivo do FMI, afirmou que as tarifas serão ampliadas para outros países, incluindo o Brasil, e que isso é apenas uma questão de tempo.
Em entrevista ao jornal O Globo, Canuto destacou que setores como o aço e o alumínio podem ser os mais afetados pela possível ampliação das tarifas.
“A dúvida apenas é como isso vai chegar ao Brasil. Ele pode optar por uma tarifa geral ou por medidas específicas. O nosso pessoal de aço e alumínio tem que estar preocupado agora”, afirmou.
A possível implementação de novas tarifas levanta temores de que o Brasil enfrente dificuldades comerciais. Dada a sua estreita relação com os Estados Unidos, especialmente em áreas produtivas como os metais.
Canuto também alertou que o governo brasileiro já deve estar avaliando suas opções de resposta, incluindo tarifas de retaliação. No entanto, ele reconheceu que há limitações devido à dependência do comércio com os EUA.
“Imagino que o governo brasileiro esteja fazendo ou já tenha feito o dever de casa de verificar como poderá jogar tarifas de volta”, completou.
Aparente paralisia da OMC
Outro ponto destacado por Canuto é a fragilidade da Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem enfrentado dificuldades para intermediar disputas comerciais no cenário atual.
O economista afirmou que o tribunal de apelação da OMC está paralisado porque os Estados Unidos não nomearam os juízes que deveriam ser indicados.
Contudo, o que enfraquece a capacidade da organização de lidar com conflitos comerciais entre as nações. Isso cria um vácuo no sistema multilateral, deixando os países mais vulneráveis a decisões unilaterais, como as tomadas por Trump.
Volatilidade nos mercados globais
O impacto imediato das novas tarifas já é visível nos mercados financeiros, que registraram forte queda. Dessa forma, refletindo o aumento da incerteza e a preocupação com uma possível guerra comercial global.
As moedas de países emergentes, como o peso mexicano e o dólar canadense, sofreram grandes perdas. Dessa forma, com desvalorizações significativas devido à escalada protecionista.
A pressão sobre os mercados pode ser ainda maior se o governo americano continuar aumentando as tarifas, o que, segundo Canuto, poderia também gerar uma alta nos preços de produtos importados nos Estados Unidos. Isso, por sua vez, teria um efeito cascata sobre a inflação global.
“Os preços vão subir porque as cadeias produtivas não mudam da noite para o dia”, explicou o economista, sugerindo que os efeitos dessa nova política comercial podem ser duradouros e prejudiciais para a economia mundial.
Possíveis impactos para o Brasil
Uma das consequências mais imediatas da ampliação das tarifas, segundo Canuto, seria o reforço da política monetária do Federal Reserve.
O aumento das tarifas pode pressionar o banco central americano a manter os juros elevados por mais tempo. Contudo, o que teria implicações significativas para a economia global, já que as taxas de juros mais altas tendem a desestimular o consumo e o investimento.
“Se Trump ampliar ainda mais as tarifas, isso reforçará a posição do Fed de ficar onde está e não baixar mais os juros”, concluiu Canuto.
Com o Brasil observando atentamente os desdobramentos dessa nova ofensiva protecionista, fica claro que o país precisará se preparar para os possíveis impactos econômicos de uma guerra comercial mais ampla, especialmente nas áreas de aço e alumínio, setores que estão diretamente na mira das políticas de Trump.
A situação segue volátil, e os próximos passos do governo dos EUA serão decisivos para o futuro do comércio internacional e das economias emergentes.