
- Taxa básica atinge o maior patamar em quase 20 anos, com decisão unânime do Copom
- Partido adota postura distinta da usada contra Campos Neto, mesmo com novo aperto monetário
- Alta dos juros favorece fundos conservadores e reforça expectativa de rentabilidade
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central surpreendeu o mercado ao elevar a taxa Selic de 14,25% para 14,75% ao ano. Dessa forma, marcando o maior patamar em quase duas décadas. A decisão, unânime entre os diretores do BC, contou com o voto do presidente da instituição, Gabriel Galípolo, indicado diretamente pelo presidente Lula.
A medida aprofunda o aperto monetário iniciado meses atrás e reacende debates sobre autonomia do Banco Central. Além da coerência política e os impactos sobre a economia real.
Sem críticas ao Galípolo
Em nota oficial, o Partido dos Trabalhadores (PT) evitou criticar Galípolo, uma postura que contrasta fortemente com o discurso adotado quando Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro, presidia a instituição.
O PT reconheceu que o aumento já era amplamente esperado pelo mercado e preferiu destacar a gravidade do cenário econômico. Dessa forma, reforçando o argumento de que o ciclo de aperto monetário visa conter uma inflação alimentada por “pressões internas e externas”.
A justificativa para o aumento foi apresentada pelo Copom com base no cenário fiscal deteriorado no Brasil. E, ainda, no ambiente global de incerteza, agravado por políticas econômicas adotadas nos Estados Unidos. Especialmente, em relação ao comércio exterior.
A argumentação destacou a elevação dos riscos para os países emergentes e o impacto negativo do descontrole nos gastos públicos brasileiros. O colegiado afirmou que a decisão se tornou inevitável para restabelecer a credibilidade monetária. Além de controlar expectativas inflacionárias.
Selic em seu pico mais alto
Ao atingir 14,75% ao ano, a Selic retorna ao nível mais alto desde julho de 2006, período que coincide justamente com o primeiro mandato de Lula. Naquele ano, os juros chegaram a 15,25% ao ano, também sob um cenário de turbulência fiscal e instabilidade global.
Desta vez, porém, o aumento vem com o aval silencioso do próprio PT, que evita gerar atrito com Galípolo e comprometer sua recente indicação ao cargo.
A reação do mercado financeiro foi imediata. Fundos multimercado de perfil conservador ganharam força. Assim, com a expectativa de maior retorno dos ativos indexados à taxa básica. Ainda, ao passo que segmentos mais arriscados sofreram retração.
Economistas afirmam que o novo patamar da Selic poderá impactar investimentos, financiamentos e o ritmo da atividade econômica no segundo semestre.
Política monetária
Embora o Copom tenha enfatizado a necessidade de manter a política monetária contracionista, parte do mercado ainda duvida da sustentabilidade desse ciclo diante do elevado custo econômico.
Especialistas, no entanto, alertam para os riscos de desaceleração e pressão sobre o consumo das famílias, já combalidas por endividamento e desemprego.
A decisão evidencia o dilema enfrentado por governos de esquerda quando assumem posições conservadoras em áreas técnicas. A tentativa do PT de evitar o desgaste político com seu indicado mostra o quanto a condução da política monetária continua sendo um dos campos mais sensíveis e explosivos do debate econômico nacional.