Narrativa Repetida

Com queda na popularidade, Lula volta a criticar elite e adota discurso usado em crises anteriores

Presidente busca reconectar-se com base eleitoral e fortalecer apoio político diante de queda na aprovação.​

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  • Lula intensifica críticas à elite econômica como estratégia para recuperar popularidade.
  • Governo reformula comunicação e destaca programas sociais para se aproximar da população.
  • Desafios incluem percepção pública dos programas sociais e necessidade de alianças políticas.

Após registrar queda expressiva nos índices de aprovação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resgatou uma estratégia clássica de seus governos anteriores: confrontar a elite econômica. Em tom combativo, Lula retomou críticas ao que chama de “parte dominante da elite brasileira”, buscando reorganizar sua base política diante do desgaste de imagem.

Popularidade em baixa pressiona Planalto

Nos últimos meses, pesquisas indicaram uma redução significativa no apoio popular ao governo. Diversos fatores influenciaram esse cenário, especialmente o desempenho econômico abaixo das expectativas e a insegurança fiscal. Em resposta, Lula intensificou aparições públicas e entrevistas para recuperar o protagonismo e reafirmar o discurso de combate às desigualdades sociais.

Embora o governo tenha apostado em programas sociais e infraestrutura para gerar crescimento, a percepção de estagnação se acentuou. Além disso, setores como o agronegócio e o empresariado manifestaram crescente insatisfação com decisões recentes do Executivo.

Nesse ambiente, o Planalto optou por reativar a retórica de polarização. Lula identificou na elite um alvo conveniente, tanto para reafirmar sua identidade política quanto para mobilizar seu eleitorado tradicional. O recurso, amplamente utilizado em outros mandatos, surge como tentativa de mudar a narrativa dominante no noticiário.

Ademais, a oposição encontrou terreno fértil para explorar o desgaste. Partidos de centro e direita intensificaram as críticas, apostando na fragilidade atual do governo como impulso para articular novas coalizões. Com isso, a disputa pelo controle da narrativa política se acirrou.

Retórica resgata estratégias conhecidas

O discurso contra as elites já esteve presente em momentos anteriores de crise. Em 2005, no auge do escândalo do mensalão, Lula adotou tom semelhante. Em 2015, Dilma Rousseff seguiu a mesma cartilha. Agora, a repetição dessa abordagem revela um padrão estratégico em governos petistas diante da pressão social e política.

Analistas políticos observam que a estratégia pode surtir efeito no curto prazo, ao reengajar setores populares. Entretanto, existe o risco de reforçar divisões e afastar agentes econômicos. Com o empresariado já reticente, a narrativa adotada pode aumentar o isolamento institucional do governo.

Por outro lado, a comunicação do Planalto tem explorado esse tom para conter críticas à condução econômica. Ao responsabilizar uma “elite que não aceita a ascensão dos mais pobres”, Lula tenta desviar o foco do déficit fiscal, da paralisia em investimentos e das dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal.

A tática, portanto, mistura defesa política com ofensiva simbólica. No entanto, há dúvidas sobre sua eficácia diante de um eleitorado mais exigente e conectado a indicadores concretos como emprego, renda e inflação.

Economia impõe limites à narrativa

Apesar dos discursos, os números da economia continuam desafiadores. A inflação mantém-se acima da meta, enquanto o crescimento previsto para 2025 é considerado tímido. Além disso, a recente frustração com as metas fiscais de 2026 e 2027 reforçou preocupações no mercado e entre parlamentares.

A insistência no confronto com a elite não resolve gargalos econômicos. Ao contrário, pode gerar desconfiança entre investidores, especialmente diante de impasses como a indefinição sobre os precatórios e a lentidão na aprovação de reformas estruturantes.

Nesse sentido, a aposta discursiva de Lula funciona como uma medida paliativa, cujo impacto real depende de ações concretas. Caso o governo não consiga entregar resultados palpáveis, a retórica contra a elite pode se esgotar rapidamente.

Ainda assim, o Planalto parece decidido a prolongar essa abordagem, na expectativa de recuperar apoio e ganhar tempo até uma retomada econômica. A pressão, no entanto, continuará vindo de todos os lados — Congresso, mercado e opinião pública.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.

Licenciado em Letras, apaixonado por esportes, música e cultura num geral.