- Executivos do setor imobiliário alertam sobre os riscos da falta de recursos para a construção civil, especialmente com os saques do FGTS e da poupança
- Rubens Menin criticou alterações no Conselho Monetário Nacional que restringiram o lastro das Letras de Crédito Imobiliário, impactando a captação para o setor
- Rodrigo Luna, presidente da Secovi-SP, destacou que a taxa de juros elevada continua sendo um desafio para o setor imobiliário, apesar dos números positivos
- Menin criticou a comunicação do governo sobre o pacote de contenção de gastos e pediu maior compromisso com as medidas fiscais anunciadas
O Brasil fechará o ano de 2024 com um gosto agridoce no setor imobiliário. Embora o mercado imobiliário tenha demonstrado um desempenho positivo, com expectativas de ser um dos melhores anos da década, a preocupação com o financiamento da construção civil segue sendo uma sombra.
A insegurança sobre a disponibilidade de recursos foi um dos principais temas discutidos durante o Summit Imobiliário 2024, promovido pelo Estadão em parceria com a Secovi-SP, nesta quinta-feira (28).
Rubens Menin, fundador e presidente da MRV Engenharia, expressou otimismo em relação aos próximos 20 anos, mas também fez um alerta sobre a captação de recursos para o setor.
Alta dos saques
Menin destacou que a alta dos saques da poupança e as retiradas do FGTS, especialmente no contexto do saque-aniversário, representam riscos significativos para o financiamento da construção civil.
Para ele, a falta de políticas públicas adequadas para gerenciar esses recursos pode prejudicar o setor a longo prazo.
“O FGTS, que está salvando o nosso segmento, está sendo atacado. O saque-aniversário vai comprometer o orçamento futuro do FGTS, e de uma maneira ruim, porque você pega o saque-aniversário para pagar uma dívida e gastar o dinheiro de uma vez”, explicou Menin.
O executivo reforçou a importância de investir o dinheiro do FGTS na habitação, uma vez que isso traz benefícios econômicos e sociais e retorna para o sistema de forma mais sustentável.
Além de ser presidente da MRV, Menin também é fundador do Banco Inter e, por isso, tem uma visão privilegiada de ambos os lados do mercado financeiro. Ele acredita que os bancos estão se beneficiando momentaneamente dos saques do FGTS, mas alertou que isso trará um impacto negativo no futuro.
A captação de recursos foi ainda mais afetada por mudanças implementadas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no início do ano. A restrição no lastro e a alteração nos prazos das Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), que são amplamente utilizadas para captação imobiliária, também foram destacadas como desafios. Menin lamentou que, com essas alterações, não há recursos suficientes para atender à demanda do setor imobiliário em 2025.
Impacto da taxa de juros
Em outra parte do evento, Rodrigo Luna, presidente da Secovi-SP, abordou os impactos da taxa de juros elevada sobre o setor. Ele ressaltou que, embora os números de 2024 sejam extraordinários, o mercado imobiliário ainda se vê afetado por um cenário macroeconômico de juros altos.
“O desafio começa, obviamente, pela questão macroeconômica, em que precisamos encontrar um equilíbrio fiscal”, afirmou Luna.
Durante o evento, o mercado também observava atentamente as ações do governo federal, especialmente o pacote de contenção de gastos de R$ 71,9 bilhões, anunciado na véspera por Fernando Haddad, ministro da Fazenda.
A medida inclui a taxação de salários acima de R$ 50 mil e isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil.
Menin também criticou a comunicação do governo, dizendo que, ao anunciar pacotes de gastos, o Brasil precisa alinhar essas medidas com compromissos políticos.
“O Brasil comunica muito mal. Anuncia pacote de gastos, mas junto com ele tem que vir algo político. É importante cortar, mas tem que ter compromisso com o corte”, afirmou.
Ainda, deixando claro que o setor imobiliário precisa de mais estabilidade fiscal e políticas públicas claras para garantir seu crescimento no longo prazo.
Dificuldades e incertezas
Apesar das dificuldades e incertezas, o setor imobiliário segue demonstrando sinais positivos. No entanto, as preocupações com os recursos disponíveis e as mudanças econômicas sugerem que 2025 será um ano de desafios para a construção civil.